quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Operação Cerveja – Apple TV+ - Crítica


Imagine que você é um jovem americano dos anos 1960 que vive o período da Guerra do Vietnã. Você não foi convocado, mas muitos dos seus amigos de infância que moram no seu bairro sim. E eles voltam para casa apenas para serem sepultados. Isso quando voltam. O que você faria? Se alistaria para lutar ao lado deles? Faria parte dos protestos na rua? Embarcaria num navio mercante rumo ao Vietnã com uma sacola de cervejas para levar aos seus amigos na batalha para se sentirem acolhidos e ter um gostinho de casa? Por mais absurdo que pareça, a terceira opção foi o que Chickie Donohue fez. 


Essa história verídica de guerra um tanto maluca é o que conta o filme Operação Cerveja, do diretor Peter Farrelly e que tem Zac Efron no papel principal. A produção está disponível na Apple TV+ (também conhecido como o melhor streaming de todos).



Operação Cerveja


O ano é 1967 e Chickie (Zac Efron), que está de folga do trabalho, passa os dias bebendo e recebendo notícias da guerra e de como seus amigos e conhecidos estão morrendo no Vietnã. Então ele decide que vai ao Vietnã levar um gostinho de casa para seus companheiros: Vai rastrear todos eles e entregar uma lata de cerveja para cada. Todo mundo acha que era apenas papo de bêbado, mas ele realmente vai. É difícil chegar até a zona de guerra, mas por trabalhar na Marinha Mercante ele consegue e a partir daí faz de tudo para encontrar seus vizinhos. Se é ousadia ou apenas estupidez, deixo vocês decidirem.


O que Chickie achou que seria uma tarefa relativamente fácil, se torna cada vez mais difícil à medida que adentra o país mais a fundo e vê o dia a dia dos soldados e vive com eles um pouco do que foi aquele conflito. O rapaz chega lá como um maluco irresponsável que quer distribuir cerveja, mas vai mudando quando conhece os horrores da guerra. Ele amadurece e começa a enxergar além da sua bolha.




Comédia dramática


Operação Cerveja é promovido como comédia, inclusive o trailer tem um quê de comédia. E, convenhamos, Zac Efron é excelente no gênero (e em outros também. Confesso que sou fã demais dele). Afinal, a ideia é tão absurda que não poderia ser outra coisa que não comédia. Além disso, é tudo tão maluco que nenhum roteirista conseguiria inventar algo do tipo sem parecer realista.


A loucura da ideia, a maneira como ele faz para se infiltrar, o modo como é confundido com um agente da CIA, a sua falta de jeito e treinamento num front de guerra, tudo isso é engraçado. Mas então a realidade bate. Tanto para Chickie quanto para o espectador. Do meio para frente o longa ganha uma camada muito mais dramática.




Toda guerra é terrível. E a do Vietnã foi especialmente cruel por falta de motivo, por uma brutalidade sem sentido. E Chickie passa a conhecer isso. E o papel da imprensa é mostrado também com a ajuda do jornalista Arthur Coates, vivido por Russel Crowe. Ele e seus colegas registram os acontecimentos como são, mas o que chega aos EUA é outra história.


O filme peca um pouco por não se aprofundar tanto na questão geopolítica do conflito. Chickie se torna outra pessoa depois dessa epopeia maluca, mas Operação Cerveja fica quase na zona de conforto, de certa forma não batendo o suficiente nos EUA por implementarem essa guerra.


Zac Efron


Mais um papel em que está ótimo, Zac Efron é quase caricato, com um bigode bem ridículo e muito entusiasmo e vontade de fazer acontecer. Por mais irresponsável que seja, é dificílimo não se afeiçoar a a Chickie. O papel caiu como uma luva nele. E há ainda Crowe, que apesar de não ser o ator mais simpático do mundo, sempre entrega qualidade.



Imagem real de Chickie no front do Vietnã

Operação Cerveja é adaptação do livro de memórias The Greatest Beer Run Ever, escrito por Chickie Donohue e J. T. Molloy. Não é perfeito, mas é ótimo e uma excelente história maluca de guerra. É, no mínimo, fascinante e um relato que merece ser contado.


Recomendo bastante.


Teca Machado


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Machos Alfa – Netflix - Crítica


Você se considera machista (mesmo sendo mulher)? A resposta é provavelmente não. Mas com certeza tem algumas atitudes que possam sem considerada dessa maneira, mesmo sem perceber. E o tema sempre aparece em séries, livros e filmes e a mais nova dessa leva é Machos Alfa, produção espanhola da Netflix e que entrou no catálogo em dezembro sem muito alarme.




O grande trunfo de Machos Alfa é que ela ri na cara do machismo. E ri com gosto! E a gente ri junto. Não tinha ouvido falar nada da série, mas apareceu como recomendada para mim, vi o trailer, gostei e comecei despretensiosamente. Me diverti horrores e agora estou doida para a segunda temporada, que já foi confirmada.


Machos Alfa


Quatro amigos próximos dos 40 anos estão passando por situações complicadas em seus relacionamentos e acabam indo parar num curso de desconstrução de masculinidade tóxica. Pedro (Fernando Gil) era um alto executivo que foi mandando embora e substituído por uma mulher, Raúl (Raúl Tejón) trai a namorada, mas quando ela pede para abrir o relacionamento ele surta. Santi (Gorka Otxoa) é obrigado pela filha a ter encontros pelo Tinder para esquecer a ex-mulher e Luis (Fele Martinez) não faz sexo com a esposa há 5 meses e o casamento está abalado. Eles se sentem um pouco perdidos num mundo em que as mulheres começaram a ter posições de poder e são empoderadas, por isso fazem esse curso.



Machos Alfa, além de fazer rir com situações inesperadas e quase absurdas (como esbarrar com seus pais numa casa de swing!), fazer piada com o machismo que está mais do que enraizado na sociedade e mostrar como a masculinidade é frágil, ela faz refletir e explora como é difícil se descontruir. Além disso, exemplifica como funciona a cabeça masculina machista, mas não passa pano, pelo contrário, mostra como é insano – e mesmo imbecil - pensarem assim.


Machos Alfa é uma crítica à sociedade. E não pense que só dos homens ela faz pouco caso, das mulheres também. Todo mundo tem seus defeitos e pensamentos engessados. A série é quase politicamente incorreta, mas no melhor sentido.





Sobre homens, mas feita também por mulheres


A direção é de Laura Caballero, que também é criadora e roteirista da série. O roteiro foi criado a cinco mãos, sendo 3 delas femininas, e isso é possível notar. E por falar no roteiro, ele é muito bem amarrado e com ótimas tiradas. É comédia e por vezes pastelão, mas foge do lugar comum e nos traz umas situações completamente inesperadas, do tipo que fazem gargalhar.


E o elenco é ótimo, com excelente timing e muita química. É possível acreditar que os quatro protagonistas são amigos e se divertem muito juntos – além de brigar.




Machos Alfa conta com 10 episódios de meia hora cada e é uma delícia de assistir, daquele tipo bom de maratonar e que vai te desestressar, ao mesmo tempo que traz uma reflexão bacana sobre machismo. Essa foi mais uma prova de que adoro produções espanholas!


Recomendo muito.


Teca Machado


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