quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Para Sempre Seu – Julia Braga - Resenha


Não se deixe enganar pelo título fofinho e pela capa doce: Para Sempre Seu, da Julia Braga, publicado pela Editora Naci, está mais para You do que para uma comédia romântica. Na verdade, se você olhar bem a capa, ela já te dá uma dica do que poderemos encontrar (Veja esse vídeo do TikTok e você vai entender do que estou falando).


A obra foi publicada no Wattpad anos atrás com o título de Eterno. Agora foi editada e recém-publicada, para a alegria dos leitores e fãs da Julia.


Foto: @casosacasoselivros


Para Sempre Seu


Tita namora há anos com Davi. Ele é seu melhor amigo, estão juntos desde a época de colégio, mas ela sente que nos últimos tempo as coisas desandaram e o relacionamento não é mais grande coisa. Quando Erick,  seu namoradinho de adolescência reaparece em sua vida e traz aquela doçura do primeiro amor, a garota se sente balançada entre os dois, afinal, Erick mostra ser tudo o que Davi não é mais e a trata como a mulher mais importante do mundo. Tita se pergunta se deveria deixar o conforto do namoro antigo para experimentar algo novo, mesmo que às vezes algumas coisas parecem fora do lugar.


A sinopse simples e até mesmo clichê não fala muito sobre o enredo, afinal, mais do que isso é spoiler. Para Sempre Seu é aquele tipo de leitura em que o leitor vai aos pouquinhos desvendando os mistérios. E mesmo que algumas das tramas fiquem óbvias para quem tem um pouquinho de referência literária com suspenses, a autora consegue nos surpreender, muitas vezes levando para caminhos inimagináveis.


Julia Braga


De prender o fôlego


O começo de Para Sempre Seu é fofinho, é um romance “normal”. Um relacionamento que perdeu o brilho, outro, obra do acaso, que vai sendo reconstruído e uma garota que tem seu coração partido e reconstruído. Mas a partir da metade a trama se intensifica, até que no terço final você fica grudado no livro, sem conseguir parar de ler. Dormi de madrugada duas noites porque simplesmente não dava para parar. E quando acabei, uau, que livro!


Além do suspense e do mistério, Para Sempre Seu ainda traz uma reflexão sobre as formas de amar. E não só amor romântico, já que Tita tem na sua vida o amor entre amigos, entre sua família e mais. Mas, no fim das contas, será que todas as formas de amar são saudáveis? São boas?


Julia Braga


Julia Braga, também autora de Eu, Cupido (Veja a resenha aqui) e Querido Bebê, que ainda não li, mas pretendo ainda esse ano tirar da estante, tem uma escrita gostosa, fluida. Essa história é diferente das outras dela que conheço, é mais pesada, mais intensa, mas ainda assim maravilhosa. 


A autora soube criar uma sensação de insegurança, de ameaça. Muitas e muitas vezes tudo o que eu queria era pegar a mão da Tita e dar um abraço dizendo que ia ficar tudo bem. Sua dor, seu medo, seu isolamento, tudo isso é palpável, quase salta das páginas do livro.


 


Vou parar por aqui para não soltar spoilers, mas uma coisa eu digo: Leiam Para Sempre Seu.


Recomendo muito.


Teca Machado


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Black Bird - Crítica


Você aceitaria ser enviado como infiltrado para uma prisão de segurança máxima para conseguir uma confissão de um possível serial killer? E se o preço disso fosse a sua liberdade? 


James Keene aceitou essa oferta e é isso que vemos em Black Bird, mais uma excelente produção da Apple TV+, streaming que, para mim, é o melhor em conteúdo que temos hoje.



Black Bird


Baseada na história real de Keene, em Black Bird acompanhamos James, mais conhecido como Jimmy (Taron Egerton). Preso por tráfico de drogas e posse de armas pesadas, ele recebe uma sentença de 10 anos de prisão. Mas o FIB, personificado pela agente Lauren McCauley (Sepideh Moafi), entra em contato e lhe faz uma proposta: Se ele aceitar ir para uma prisão de segurança máxima e conseguir a confissão de um dos prisioneiros, sua sentença será anulada. O preso em questão é Larry Hall (Paul Walter Hauser), condenado por um assassinato, mas prestes a conseguir liberdade condicional por faltas de evidências concretas. Lauren e o detetive Brian Miller (Greg Kinnear) têm certeza de que Hall é um serial killer de adolescentes do Meio-Oeste e esperam que Jimmy consiga a confissão para que ele não seja solto.



True Crime


Histórias de true crime são as queridinhas do momento. Por mais estranho que isso pareça, o ser humano sempre se interessou por narrativas criminais, de assassinatos, de seriais killer. Se forem reais, melhor ainda.  Por isso vemos por aí tantas produções baseadas em crimes que aconteceram. E eu estava ansiosíssima para assistir Black Bird desde que vi o trailer. E não me decepcionei. 


Black Bird não é uma série cheia de ação ou reviravoltas, mas te prende do início ao fim. Com atuações magníficas e um roteiro muito bem amarrado, coeso e no ritmo certo, é um thriller policial no seu auge. As conversas de Kimmy e Hall são estupendas, do tipo que te deixam sem fôlego, com medo de piscar e perder algo. 




Geralmente produções policiais jogam pistas falsas para enganar os espectador com reviravoltas sensacionais. Black Bird não faz uso desse recurso. Tudo está ali por um motivo e por isso ela não se arrasta. Temos seis episódios de uma hora enxutos e que usam com sabedoria o seu tempo. O roteiro não quer levar o espectador por nenhum caminho que não seja aquele que ele se dispôs desde o início.


Personagens e elenco 


Taron Egerton (lindíssimo e malhadíssimo, diga-se de passagem) e Paul Walter Hauser merecem todos os elogios possíveis. Vemos Jimmy passando de arrogante e confiante a um homem sendo destruído pouco a pouco dentro daquelas paredes cheias de insanidade. E Hall tem um olhar, uma voz, um jeito de se postar que é, realmente, amedrontador. Não há nada que o destaque das outras pessoas, é só um cara muito esquisito aparentemente inofensivo, mas é isso que o deixa extremamente assustador.


Ambos os personagens são bem construídos, com o quebra-cabeça de suas vidas pré-cadeia sendo montado aos poucos. E temos a construção de algumas das vítimas, que no quinto episódio ganham destaque e são mostradas de uma forma feliz, o que nos dá um soco no estômago e deixa um gosto amargo na boa.




Black Bird é produzida pelo próprio James Keene e criada e roteirizada por Dennis Lehane, com base no livro de Kenne In with the Devil: A Fallen Hero, a Serial Killer, and a Dangerous Bargain for Redemption (Com o diabo: um herói caído, um serial killer e uma pechincha perigosa para redenção), publicado em 2011.


Recomendo demais, principalmente para aqueles que gostam de suspense policial, boas atuações, uma história interessante e enredos baseados em fatos reais.


Teca Machado


terça-feira, 20 de setembro de 2022

Como Seria Se...? - Crítica


Você com certeza já se perguntou como seria sua vida se sua decisão tivesse sido B ao invés de A, se tivesse ido para a esquerda ao invés da direita, se tivesse ido à festa ou ficado em casa. A verdade é que nunca saberemos ao certo as consequências das decisões que tomamos – ou que o destino toma por nós. Mas e se? É isso que indaga o filme Como Seria Se...?, da diretora Wanuri Kahiu, da Netflix.




Como Seria Se...?


Prestes a se formar e com planos para o que seria sua vida daí para frente, numa noite de impulsividade Natalie (Lili Reinhart) dorme com o seu melhor amigo Gabe (Danny Ramirez). Na festa de formatura, enquanto está passando mal, faz um teste de gravidez. Nesse momento o filme de divide: Uma parte acompanha Natalie com o resultado dando negativo e outro positivo, ambas acontecendo simultaneamente e se alternando.


No negativo a vemos seguindo seu plano de 5 anos, indo para Los Angeles com a melhor amiga Cara (Aisha Dee) e a procura de um emprego no ramo de animação. É um setor concorrido no qual ela mergulha e tem alegrias e frustrações. No positivo, a acompanhamos voltar para a casa dos pais e tentando se reencontrar como mulher, profissional e ser humano enquanto navega a maternidade e deixa seus planos tão cuidadosamente construídos de lado. Tudo isso é feito de forma muito sensível, delicada e mesmo real. 



Com uma edição de arte bacana e bem pensada, conseguimos acompanhar sem problemas cada versão de Natalie, com suas cores, iluminação, figurino e corte de cabelo diferente.


As alegrias e as tristeza de ambos os lados


O mais interessante de Como Seria Se...? é que o filme não eleva demais e nem diminui demais nenhum dos lados. A maternidade, ainda mais tão jovem e solteira, pode ser sufocante e extremamente difícil, mas tem suas alegrias e momentos que dinheiro nenhum paga. Do mesmo modo, correr atrás dos seus sonhos profissionais não são flores, mas tem seus lados bons e recompensas. O roteiro humaniza ambas as situações e não romantiza nenhuma delas. Natalie não é uma pessoa melhor e nem pior quando está na sua versão mãe e o mesmo acontece com a sua versão profissional. São lados da mesma moeda, a mesma pessoa que precisou lidar com situações diferentes. É até mesmo difícil escolher qual das duas trama o espectador gosta mais. Eu mesma assisti dias atrás e ainda não consegui decidir.


Além disso, o filme mostra que o amor da sua vida nem sempre é questão de destino. Às vezes é de ocasião. Não existe só um cara para Natalie, porque em cada versão existe uma pessoa perfeita para a protagonista.





E são essas questões que transformam Como Seria Se...?. Poderia ser apenas mais um romance, mas uma comédia romântica/dramática. Mas o roteiro foi feito de uma forma que aquece o seu coração, que você torce para a protagonista – independente de qual versão – e sabe que, sim, está tudo bem.


Elenco


Como Seria Se...? não seria o mesmo se outra atriz fosse a protagonista. Lili Reinhart foi uma excelente escolha e soube carregar de forma muito competente duas versões da mesma personagem. Em ambos os casos a gente tem vontade de abraçá-la, consola-la e ser sua amiga. E eu muitas vezes tinha a impressão de estar olhando para a Brittany Murphy. Como elas são parecidas!


O elenco ainda conta com Danny Ramirez, um fofo e doce, tipo de cara que sim, poderia ser o seu melhor amigo por quem você se apaixonaria facilmente. E David Corenswet (que, para mim, é belíssimo e a cara do Henry Cavill), um querido, bacana e por quem você também facilmente se apaixonaria. Aisha Dee completa o quadro, sendo uma amiga sensacional, que você gostaria de ter por perto.

Cena da trama em que o teste dá negativo

Cena da trama em que dá positivo


Minha única reclamação vai para o fato que na versão em que o teste de gravidez dá positivo, ao longo dos cinco anos nos quais o filme passa a filha de Natalie e Gabe muda de etnia alguma vezes. A garotinha em momentos em branca, depois negra, então latina e assim por diante. Foi um erro de continuidade.


De qualquer modo, Como Seria Se...? foi um filme que me ganhou e que foi uma grata surpresa. Recomendo muito.


Teca Machado


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