quarta-feira, 31 de março de 2021

The One – Netflix – Crítica


Deu match!


Se você pudesse saber quem é a sua alma gêmea, aquela pessoa por quem é garantido geneticamente que vai se apaixonar, você faria o teste?


Essa é a premissa de The One, série da Netflix, cuja primeira temporada entrou no catálogo dia 18 desse mês. Assisti por acaso, porque apareceu nos meus destaques e o trailer me chamou a atenção. Resultado: fiquei viciada. O que eu me pergunto agora é: Por que não tem mais gente falando sobre essa série que é tão boa?



The One é baseada no livro de mesmo nome de John Mars, publicado no Brasil pela Globo Livros. O lançamento, coincidentemente, é hoje, 31 de março.


The One


A geneticista Rebecca Webb (Hanna Ware) e seu amigo James Whiting (Dimitri Leonidas) descobriram como achar a combinação perfeita entre os casais por meio do DNA. Tudo o que a pessoa precisa fazer é enviar uma amostra genética para a empresa The One, como um fio de cabelo por exemplo. Lá, em seu banco de dados com milhões de amostras, procura quem tem a genética pela qual é comprovado que irá se apaixonar. Mas achar a pessoa perfeita é simples, o difícil é saber que ela tem defeitos, problemas e que mesmo os pares que mais combinam podem não dar certo.




Apesar de uma sinopse que pende para um romance – afinal, fala sobre achar o par feito, relacionamentos e etc – The One não é uma série romântica, longe disso. É ficção científica, investigação criminal, mistério, jogos de ego, poder e manipulação. Muita gente tem descrito até como um derivado de Black Mirror.


Arcos dramáticos


Um dos maiores acertos da série é focar em mais de um arco dramático. Todos são interligados e extremamente interessantes, com mais revelações e mais camadas sendo expostas a cada episódio. Rebecca mesmo vive mais de um arco: o que envolve Matheus (Albano Jerónimo), sua combinação, os problemas que teve com Ben (Amir El-Masry) e tudo o que envolve seu desaparecimento e as questões empresariais por ser CEO de The One.




Também temos o de Kate (Zoe Tapper), policial que investiga o aparecimento de um corpo no rio Tâmisa e que descobriu recentemente que sua combinação é uma mulher e que sofreu um acidente. Há ainda o caso de Hannah (Lois Chimimba), que faz o teste para o seu marido, sem ele saber, porque louca de ciúmes deseja saber quem é o seu par perfeito. Assim, fica amiga da mulher (Pallavi Sharda) e faz de tudo para que o marido e ela nunca se vejam.


E o bacana é que a trama não gira só em torno dos personagens e seus conflitos, mas mostra os problemas que uma empresa como The One cria no mundo: aumento absurdo das taxas de divórcio – afinal, as pessoas casadas descobrem que sua combinação não é o cônjuge -, a dor que fica ao saber que sua combinação morreu, o acesso irrestrito a banco de dados de DNA e mais.


Personagens


Os personagens foram bem construídos, principalmente Rebecca, que foi muito bem interpretada por Hannah Ware. O roteiro não esconde nenhum lado seu, nem o pior, nem o melhor. E ela é como uma cebola, com camadas sendo descobertas. Vemos de como passou de uma geneticista que queria mudar o mundo, deixar as pessoas felizes a alguém capaz de tudo. Na verdade, ela sempre foi assim, mas com o poder que conseguiu por meio de The One essa sua faceta só ficou mais escancarada. 




É ótimo acompanhar não só a protagonista, mas também Kate, James, Hannah, Mark, Matheus e todos os outros. O elenco é afiado, com química e soube contar essa história de forma muito interessante.


A série, que é inglesa, conta nessa primeira temporada com 8 episódios com cerca de 45 minutos cada. O ritmo é ótimo – não corre demais, não é lento, e vai desvendando os mistérios na medida certa – e eu só não digo que maratonei porque é quase impossível maratonar alguma coisa tendo gêmeos de 6 meses. Mas assisti bem rápido, já que é bem difícil parar de ver.


A Netflix ainda não anunciou uma segunda temporada, até porque estreou só há 15 dias, mas especulações dizem que terá. O último episódio fecha muitos arcos, mas abre novos.


Quando você compra um livro ou produto da Amazon por meio do link aqui do blog ajuda a manter a página no ar. <3


E aí fica a minha pergunta: Você faria o teste para descobrir quem é a sua combinação?


Recomendo muito.


Teca Machado


segunda-feira, 29 de março de 2021

Um Príncipe em Nova York 2 - Crítica


Não sei de vocês, mas Um Príncipe em Nova York faz parte das minhas memórias de infância. Passava muito na Sessão da Tarde e eu sempre assistia. O príncipe Akeem (Eddie Murphy) e seu fiel amigo e escudeiro Semmi (Arsenio Hall) fizeram um excelente filme na década de 1980, tanto que é guardado com carinho por muitos fãs até hoje. E agora a Amazon Prime Video trouxe uma sequência, 30 anos depois do original, e é impossível não se sentir nostálgico. 



Do diretor Craig Brewer, o filme é da Paramont e seria lançado ano passado nos cinemas com grande estardalhaço. Mas já sabemos o que aconteceu no último ano, certo? Então a Amazon comprou os direitos. Temos um filme que realmente seguiu a linha do tempo e no qual se passaram três décadas. E se você não se lembra perfeitamente do primeiro – ou não assistiu – não tem problema. É um filme que é fácil de acompanhar, ainda que uma referência ou outra passe batido se a pessoa não tem a bagagem do original, como a presença dos barbeiros e da banda Chocolate Sensual.


Um Príncipe em Nova York 2


Akeen ainda é o príncipe do reino de Zamunda. Mas em breve será rei, já que seu pai, Jaffe Joffer (James Earl Jones, o eterno Mufasa e Darth Vader), em breve morrerá. Agora Akeen terá o cargo para o qual treinou, estudou e trabalhou a vida toda. Do mesmo modo, sua filha mais velha Meeka (Kiki Layne) está sendo preparada desde o nascimento para um dia assumir o trono. Mas o general Izzi (Wesley Snipes), comandante do país vizinho, afirma que se ele não casar sua filha com o seu filhou ou arrumar um herdeiro do sexo masculino, irá invadir Zamunda. Entretanto Akeen descobre que tem um filho homem bastardo, que concebeu – sem nem mesmo saber! – em NY durante a sua temporada lá e traz rapaz Lavelle (Jermaine Fowler) para seu país, algo que incomoda profundamente as filhas.




De certa forma, Um Príncipe em Nova York recicla o enredo do primeiro (Akeen foi para a cidade para fugir do casamento arranjado e encontrar um grande amor), mas de forma atual. É nostálgico e celebra o filme original sem perder a criatividade, ainda que alguns clichês sejam usados e a gente saiba desde o começo como o filme irá terminar.


É interessante ver que há a crítica do papel da mulher na sociedade mais uma vez, falando que são colocadas em segundo plano. Mas dessa vez ao inverso. Em 1988 a questão era o seu papel na sociedade e casamento, agora é na condução do governo.


Zamunda


Ainda que o título seja “em Nova York”, dessa vez o cenário principal é o reino africano de Zamunda, o que é um deleite para os olhos. E uma curiosidade: o palácio de Akeen foi filmado na casa do rapper americano Ricki Ross, perto de Atlanta, que tem cerca de 30 acres e até mesmo um lago.




Algo que chama muito a atenção desde o primeiro filme é o figurino, tanto que ganhou indicação ao Oscar nessa categoria em 1988. Impossível não lembrar das roupas de Akeen, extremamente luxuosas, em pleno Queens. E agora a produção subiu de nível ainda mais nesse sentido, pois o tempo todo remetemos a Wakanda. Bom, ou será que Wakanda que remete a Zamunda? Já que a icônica comédia que mostrou uma África rica, desenvolvida e incrível veio quase 30 anos antes.


Eddie Murphy


Eddie Murphy soube trazer a vida mais uma vez Akeen, assim como Arsenio Hall e seu Semmi. É uma delícia encontrar personagens antigos que tanto amamos interpretados pelos mesmos atores, ainda recheados de carisma. E não só os dois, mas muitos outros, como Shari Headley, como Lisa, John Amos, o próprio James Earl Jones e muitos outros. Mas é clara a ausência de Madge Sinclair, a rainha e mãe de Akeem, uma vez que a atriz faleceu em 1995. 


E há acréscimos ótimos, como Lavelle e sua família, que conta com Tracy Morgan e Leslie Jones (que muita gente amou e muita gente odiou. Eu, particularmente, achei a personagem “muito demais”). E não podemos deixar de comentar a presença de Morgan Freeman, que foi o mestre de cerimônias do funeral do rei Jaff Joffer.




Um Príncipe em Nova York 2 é divertido, nostálgico e engraçado. Respeita o original, mas atualiza piadas e enredo para um mundo bem diferente daquele que conhecemos em 1988. O coração de quem gosta do primeiro fica quentinho com a homenagem feita.


E podemos esperar Um Príncipe em Nova York 3. Mas ainda vai demorar muito. Eddie Murphy disse que já tem ideia para o próximo filme, mas só vai fazer quando tiver 75 anos, porque de acordo com ele o roteiro e toda a trama pedem que ele tenha essa idade. Hoje ele tem 59 anos (o aniversário dele é daqui 5 dias, como acabei de descobrir), então vamos esperar um tantinho ainda.


Recomendo.


Teca Machado


sexta-feira, 26 de março de 2021

Troca – Naila Barboni Palú - Resenha


Tem coisa melhor do que ler livros ótimos? E é melhor ainda quando o autor é uma pessoa querida sua! É o caso da resenha de hoje, do livro Troca, da Naila Barboni Palú. Da escritora eu já li A Princesa Guerreira – e todos os contos desse universo – (resenha aqui) e as histórias que ela tem nas antologias Estarei Em Casa Para o Natal e Notificação Preferida. E agora trouxe um post sobre a sua publicação mais recente, o livro Troca, uma releitura dos contos de fadas, focada principalmente nos filhos dos personagens que já conhecemos.


Foto @casosacasoselivros


Eu li ano passado, em maio, quando foi lançado e até falei aqui no blog sobre a pré-venda, mas logo depois a página entrou num hiato em que fiquei meses sem postar e acabei esquecendo de resenhar esse livro que amei tanto. Mas hoje vim reparar o erro.


Vem comigo!


Troca


Já pensou um belo dia acordar e estar num corpo diferente?


Não só diferente, mas no do filho da Branca de Neve, sendo que você é filha da Rainha Má. Na verdade, vários personagens dos contos de fadas acordaram no corpo de outra pessoa. Ou seja: o caos total nos reinos. E quem é o responsável por tudo isso? Claro que Rumpelstiltskin. Mas, e agora, como fazer para destrocar os corpos?


Enredo


Numa história extremamente criativa em que encontramos vários personagens que já amamos e conhecemos novos (Oi, Junior!), Troca é aquele tipo de livro para ler bem rapidinho, tão divertido, leve e mesmo engraçado que é. É para quem ama tudo relacionado a contos de fadas, principalmente releituras.


Naila Barbono Palú (Arquivo pessoal)

Começamos com Dara, a filha da Rainha Má, e Will, filho da Branca de Neve, mas com o passar das páginas outros personagens de outras histórias aparecem. O livro é separado em partes, quase como contos separados, em que o foco de cada é uma troca de corpos diferente e é superdivertido ver como eles descobrem e vão fazer para destrocar. As histórias acabam sendo independentes, com início, meio e fim, mas são todas entrelaçadas, como se fosse um enorme conto de fadas único.


Entre os personagens temos os clássicos, como Bela, Rapunzel, Aurora, Malévola, Aladdin, Ariel, Branca de Neve, Elsa e outros, mas também conhecemos os filhos de muitos deles, como Junior, filho do Capitão Gancho (e disparado um dos melhores personagens da vida!) e outros, como o tritão Nilo – ou como Junior prefere, Beleza Dourada. Todos são extremamente carismáticos e eu posso dizer com toda tranquilidade que quero ser amiga da vários deles.


Ah, só uma curiosidade! Muitos dos nomes de personagens, como Aurora, Elsa, Ariel e Malévola são propriedade da Disney e não podem ser usados, então a Naila precisou dar outros nomes para alguns deles. Mas todos nós sabemos quem é quem mesmo assim.


Troca está disponível apenas em e-book (mas se tiver físico um dia eu vou querer com certeza!) e pode ser comprado avulso ou lido pelo Kindle Unlimited.



Recomendo muito.


Teca Machado


P.S.: Durante o livro todo li o nome Rumpelstiltskin mil vezes e assistia a série Once Upon a Time legendada, então sempre via escrito também, mas eu simplesmente não consigo escrever Rumpelstiltskin sem copiar de algum lugar, hahaha. 


quarta-feira, 24 de março de 2021

The Morning Show - Crítica


Em 2019 assisti a 2 episódios de The Morning Show e fiz uma crítica aqui no blog, deixando claro que não tinha visto tudo. Esse ano voltei a assistir – na verdade reiniciei – e posso dizer que foi uma das melhores séries que assisti nos últimos tempos. A produção, que foi a primeira feita e lançada pelo serviço de streaming da Apple, a Apple+, é inteligente, atual, necessária e com excelentes atuações.


Nem cheguei ao fim da resenha, mas já afirmo que recomendo muito a série criada por Jay Carson.




The Morning Show 


O primeiro episódio já começa com um escândalo: Mitch Kessler (Steve Carell), um dos âncoras do programa matinal de maior audiência dos Estados Unidos é demitido imediatamente após ser acusado de assédio sexual por funcionárias do próprio show. A notícia cai como uma bomba em todos, principalmente em Alex Levy (Jennifer Aniston), sua colega de bancada há 15 anos e amiga. Ela sabia que Mitch, mesmo casado, tinha uns casos aqui e ali, mas não consegue acreditar que seja assédio, ainda mais que ele prontamente afirma que tudo foi consensual. O lugar vago de apresentadora vai para Bradley Jackson (Reese Whiterspoon), uma jornalista falastrona de uma emissora sem nenhuma expressão no interior que teve um vídeo seu viralizado.


Por mais que a sinopse não pareça tão interessante e nem mesmo o primeiro episódio – ele é um tanto lento e, já aviso, esconde todo o potencial da série – continue a assistir. Os dois episódios iniciais podem não ser os melhores, mas são fundamentais para a construção de todo o arco dramático e dos personagens. Depois o enredo pega fogo!




De início parece que vai ser uma série sobre duas mulheres ambiciosas que querem sobressair uma à outra numa guerra de egos, enquanto se investiga se ele é culpado ou não (essa foi a impressão que tive quando fiz a resenha sem ter assistido toda a primeira temporada). Mas The Morning Show é muito mais do que isso, criando uma tensão enorme no espectador, que fica vidrado, enlouquecido para terminar todos os episódios.


#metoo


The Morning Show poderia facilmente se tornar uma plataforma do feminismo para acabar com os assediadores. E faz isso lindamente, principalmente no episódio final. Mas não é na base do grito e do “eles fizeram isso, vamos acabar com eles”. A série vai cozinhando, foca principalmente em causa e efeito das ações e quando falo isso não é apenas sobre o assédio masculino, mas sobre absolutamente tudo na vida. Ela nos desperta emoções complexas, nos engana sobre o caráter dos personagens e a sensação que fica é a de frustração por saber que a realidade não é muito diferente.


Em tempos de #metoo é fácil tentar pensar em quem Mitch Kessler é baseado. O primeiro pensamento é em Harvey Weinstein, mas dizem as más línguas que é a história de Matt Lauer (por mais que a produção negue). É difícil não achar que seja, já que ele é um jornalista, apresentador do The Today Show (programa no mesmo formato de The Morning Show) e que foi demitido por comportamento sexual inadequado, após ter sido denunciado por uma colega.




Aniston, Whisterspoon, Carell e outros


Jennifer Aniston e Reese Whiterspoon são um espetáculo na interpretação. No primeiro episódio achei a Reese um pouco forçada, principalmente na cena do vídeo dela que viraliza, mas faz parte da personagem. Não são as “mocinhas”, mas também não são as vilãs – ainda que Alex muitas vezes pareça. Mas é inegável o rastro de destruição que elas deixam. As atrizes são produtoras de The Morning Show e receberam US$ 2 milhões por episódio, além dos dividendos da produção. E tenho certeza de que a Apple+ não se arrependeu, porque elas realmente fizeram um excelente trabalho nessa que é considerada uma das séries mais caras de todos os tempos, custando cerca de U$ 17 milhões por episódio.


Além delas, Steve Carell é um excelente acréscimo ao elenco. Apesar de ser conhecido principalmente por seus papeis de comédia, ele sabe fazer drama muito bem e mostra aqui. Mas não podemos deixar de falar de Billy Crudup, no papel de Cory Ellison, o chefe do jornalismo da emissora e que é doidão. O personagem tem definitivamente as melhores falas e rouba a cena sempre que aparece, tanto que ganhou o Emmy e o Critics Choice Award pelo personagem. É alguém que o público nunca sabe realmente de que lado está e qual sua real intenção, mas a motivação sabemos: chegar ao topo.




The Morning Show foi concebida para ter duas temporadas, então assim que primeira foi lançada já sabíamos que teríamos mais uma, que inclusive já começou a ser gravada. Ela seria filmada no verão americano de 2020 para ser lançada no outono, mas a pandemia atrapalhou o cronograma, que voltou mês passado. São 10 episódios por temporada, com cerca de 1h cada.


Recomendo muito.


E se você ainda não assina a Apple+, indico o serviço de streaming, que é recheado de excelentes produções. A empresa preza pela qualidade ao invés da quantidade, então podemos saber que apesar de não ter inúmeras séries e filmes todos são muito bem feitos.


Teca Machado




segunda-feira, 22 de março de 2021

Os 7 de Chicago - Crítica


Já tem alguns anos que toda premiação do Oscar assisto a todos os indicados na categoria Melhor Filme e o que mais conseguir. E esse ano não vai ser diferente (apesar de que sempre via no cinema). Mas digo que vou tentar, porque pela primeira vez tenho bebês em casa, já que os gêmeos estão com 5 meses e nem sempre consigo assistir e ler o que quero.


Dos indicados em 2021 assisti apenas um até agora: Os 7 de Chicago, do diretor Aaron Sorkin, que também assina o roteiro. O filme, original Netflix, ainda concorre nas categorias Melhor Ator Coadjuvante com Sacha Baron Cohen, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Montagem. 




Os 7 de Chicago


Baseado numa história real, o filme se passa em 1968. O que deveria ser protesto pacífico contra a Guerra do Vietnã na Convenção Nacional do Partido Democrata se transformou em um dos mais violentos confrontos dos EUA com a polícia e a Guarda Nacional. A procura de um bode expiatório, oito homens foram acusados pelo governo de conspiração, incitação à revolta e outras denúncias relacionadas aos protestos em Chicago. 


Abbie Hoffman (Sacha Baron Cohen,) Tom Hayden (Eddie Redmayne,) Jerry Rubin (Jeremy Strong,) Bobby Seale (Yahya Abdul-Mateen II,) John Froines (Daniel Flaherty,) Rennie Davis (Alex Sharp,) David Dellinger (John Carroll Linch) e Lee Weiner (Noah Robbins), homens todos muito diferentes entre si e com diversas motivações, foram os indiciados esse julgamento que tomou proporções mundiais. O mote dos manifestantes em frente aos tribunais era “o mundo todo está assistindo”.




Roteiro e elenco


Os 7 de Chicago é um excelente exemplo do que bons atores conseguem fazer com um bom roteiro. Sorkin, que começou a escrita porque esse seria um projeto com Steven Spielberg e Heath Ledger, mas foi abandonado e demorou 10 anos para ficar pronto, conseguiu fazer um filme sério, com um tema importante e marcante na luta dos direitos humanos, dramático e mesmo com cenas e situações revoltantes, mas que ainda assim tem seus momentos de leveza e humor, principalmente trazidos pelo personagem de Baron Cohen, que fazia stand-up em diretórios estudantis e bares. Os diálogos são inteligentes e o filme é ágil. As cenas dos confrontos são realmente muito bem feitas e orquestradas.


Os oito (o título do filme fala sete porque Seale seria julgado separadamente) atores entregam seus personagens com paixão e convicção. Alguns já conhecidos do público, outros nem tanto, mas são ótimos. E há ainda outros nomes, como Mark Rylance, Joseph Gordon-Levitt, Frank Langella e Michael Keaton.






Atual


Apesar de ter como cenário o fim da década de 1960, Os 7 de Chicago é extremamente atual em termos de violência policial principalmente contra os negros e outras minorias. O caso de Bobby Seale, tido como líder dos Panteras Negras é o que deixa essa fato ainda mais claro, já que foi torturado, espancado e não teve direito a um advogado, além de ser levado ao tribunal amordaçado e amarrado, num exemplo claro do que não é a democracia. Seale depois escreveu um livro chamado Seize The Time, onde relata tudo o que passou.


É um bom filme, com ótimas atuações e que deve levar algumas estatuetas para casa. Não sei se num ano “normal”, sem pandemia, com cinemas abertos e muito mais produções seria um candidato à Melhor Filme no Oscar, mas vale a pena investir pouco mais de 2h com a produção.




Recomendo.


Oscar 2021 – Indicados a Melhor Filme


Meu Pai

Judas e o Messias Negro

Mank

Minari

Nomadland

Bela Vingança

O Som do Silêncio

Os 7 de Chicago – Assistido!


Teca Machado

sexta-feira, 19 de março de 2021

Deixei Você Ir – Clare Mackintosh - Resenha


Um dos gêneros que mais gosto de ler – e de assistir filmes – é o suspense policial com enredos bem escritos e reviravoltas incríveis. Uma das autoras que mais gosto e que faz isso com maestria é Gillian Flynn, que tem excelentes livro e que escreveu uma das obras mais geniais que já li, que é Garota Exemplar (resenha aqui). Outro autor que faz isso com alto nível é Michel Bussi. Ninfeias Negras (resenha aqui) é outro dos livros está entre os mais espetaculares e inteligentes que já li. Uma das histórias que li esse ano e trouxe essa sensação de “meu Deus, o autor me enganou! Que incrível!” foi Deixei Você Ir, de Clare Mackintosh, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca.


Ah, tem medo de ler resenhas por causa de spoilers? Vem tranquilo que por aqui não tem.


Foto @casosacasoselivros


Deixei Você Ir


Quando o pequeno Jacob, de cinco anos, solta a mão da mãe para atravessar a rua e morre atropelado numa tarde chuvosa na Inglaterra, o motorista responsável pelo acidente simplesmente acelera e vai embora sem prestar socorro. Cabe aos detetives Ray e Kate investigarem o caso, mesmo que não tenham absolutamente nenhuma pista ou testemunha. Jenna, completamente abalada pela morte do garoto, não consegue mais ficar na mesma casa, no mesmo lugar onde o atropelamento aconteceu. Abandona tudo e se muda para uma pequena cidade no País de Gales, onde vive numa eterna tristeza. Quando vislumbra uma chance de vida normal e felicidade, o passado volta para assombrá-la.


Trama


Deixei Você Ir é uma mistura de suspense psicológico com drama. Os primeiros capítulos demoram um pouco para que o leitor se conecte com a história, porque é um pouco lento e vai nos apresentando os personagens principais, que são Jenna e Ray, e o que passaram para chegar a esse estágio de suas vidas. 


Clare Mackintosh criar um quebra-cabeças complexo e inesperado, com peças que se encaixam que a gente nem imagina durante a leitura. E, de repente, no meio do livro somos presenteados com uma reviravolta que muda todo o rumo a trama e nos faz ver tudo sob uma nova perspectiva. E, quando isso acontece o livro que já estava bom se torna ótimo, pois há um novo ritmo em tudo, a ponto de o leitor perder o fôlego.


Clare Mackintosh

Personagens


Deixei Você Ir gira em torno de Jenna e Ray. Apesar da tristeza angustiante e paralisante, queremos conhecer mais de Jenna, saber o que aconteceu com ela no passado, além do atropelamento, que a deixou tão quebrada. Há um mistério que ronda a personagem e que nos aguça a curiosidade. É uma personagem a quem o leitor se afeiçoa e torce para que finalmente siga em frente.


Ray é um ótimo policial, que realmente se importa com o caso e com todos os outros nos quais está envolvido. Talvez a paixão pelo trabalho, aquele ardor e vontade de desvendar tudo, já está se apagando um pouco, afinal, são décadas na força policial e o caso de Jacob simplesmente não parece andar. Mas Kate, sua companheira, não quer desistir. O livro só perde um pouco a força quando foca muito na vida pessoal de Ray. Isso humaniza mais o personagem, que não é apenas um policial resolvendo um caso, mas por vezes arrasta um pouco.


O leitor acaba de conectando mais com Jenna por causa do estilo da narração. Os capítulos dela são em primeira pessoa, o que, na minha opinião, ajuda a entrar mais na mente do personagem. Já os de Ray são em terceira pessoa.


Clare Mackintosh sabe do que escreve. A autora trabalhou doze anos na polícia, incluindo um período no Departamento de Investigação Criminal. Buscou inspiração da trama em um caso de atropelamento de um garoto no qual foi a detetive responsável e na perda de seu próprio filho, ainda que em condições diferentes das de Jacob. A escritora trocou de carreira para ser jornalista e Deixei Você Ir é sua obra de estreia, o que surpreende, porque é muito maduro e bem escrito para ser um primeiro livro.




Deixei Você Ir é a única obra da autora publicada no Brasil, mas ela tem outros livros: Let Me Lie, I See You, Hostage, After The End (que vi críticas incríveis), The Donor e outros.


Recomendo muito.


Teca Machado

quarta-feira, 17 de março de 2021

Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta – Crítica


Acho difícil encontrar uma mulher que, de alguma forma, nunca se sentiu lesada por algum ato machista. Pode ter sido algo grande, como um assédio sexual ou moral, ou pequenas atitudes do dia a dia, feitas tanto por homem quanto por mulheres. Muitas vezes a nossa atitude é simplesmente dar de ombros e seguir a vida, tentando ser invisível, assim como fazia Vivian (Hadley Robinson) em Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta. Mas devemos seguir o exemplo de quem ela se torna com o passar do filme e lutar pela igualdade de gênero, como mostra esse original Netflix, baseado no livro homônimo de Jennifer Mathieu, e dirigido por Amy Poehler.




Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta


Na produção, Vivian e sua melhor amiga Claudia (Lauren Tsai) são introvertidas e quietas, tentando passar despercebidas no ensino médio. Melhor assim do que figurar nas listas feitas pelos colegas homens, com ranking de “mais pegável”, “melhor bunda” e outros. Quando Lucy (Alycia Pascual Peña), negra, empoderada e feminista chega e vira alvo de assédio de Mitchell (Patrick Schwarzenegger, sim ele é filho do Exterminador), capitão do time e um dos piores exemplares do sexo masculino, inspirada pelo passado da mãe (Amy Poehler), que na adolescência fazia protestos feministas, escutava punk e lutava pelo direito das mulheres, Vivian cria o Moxie. Ele é um fanzine anônimo que relata as atrocidades feitas pelo rapazes, as desigualdades de gênero praticadas pela direção da escola, que até mesmo cala as vozes daquelas que fazem denúncias, e um desabafo de tudo nesse sentido que deixa a garota indignada. Motivadas pela publicação, um grupo de garotas, que conta com Vivian, Lucy e outras, começa a fazer uma revolução na escola.




Bem dirigido por Amy Poehler, que está excelente como a mãe de Vivian, o roteiro de Moxie é muito bem amarrado. Não corre, não arrasta e é muito fluido. A construção de Vivian é convincente. Vemos a garota ir de tímida e quieta, a feminista anônima e depois nem tão anônima assim. Sua personagem é adolescente, então entendemos os seus exageros, seus dramas, suas indignações, além do mais, tudo faz parte da evolução da personagem. Ponto para Hadley Robinson, que faz um ótimo trabalho como protagonista. Sei que não havia tempo, mas gostaria de ter visto mais das histórias das outras garotas do clube Moxie. Ainda assim, isso não chega a incomodar, pois conseguimos entender qual é a indignação de cada uma.


Filme adolescente... mas muito mais


Parece mais um filme adolescente que passa no ensino médio, mas Moxie tem muito mais em si do que apenas isso. É um manifesto feminista, que mostra que quando garotas vão à luta as coisas realmente podem mudar e nem é preciso fazer grandes manifestações: pequenas atitudes ou mesmo apoio já são um excelente começo. 





Apesar do ambiente escolar, de certo modo Moxie é um retrato da sociedade em geral quando falamos sobre igualdade de gênero: mulheres desrespeitadas em ambientes intelectuais, negras julgadas pela sua aparência (a vencedora da categoria “melhor bunda” deixa isso bem claro), instituições masculinas celebradas e as femininas subestimadas, denúncias de assédio que são feitas, mas silenciadas pelas autoridades, meninas que precisam mudar de roupa porque estão “tirando a atenção dos homens”, mulheres trans que não conseguem aceitação, estupro feito pelo próprio parceiro e muito mais.


Além disso, o foco não é o romance da protagonista, algo que poderia acabar acontecendo e é extremamente comum no gênero. Seth (Nico Hiraga), seu interesse amoroso, é parte importante do filme não por se tornar namorado de Vivian e sim porque, antes de qualquer coisa, é um rapaz que apoia as meninas e que entende que mudanças devem ser feitas – e rápido. E essa participação de Seth no movimento mostra que a luta (e o filme) não é só para as mulheres, mas para todas as pessoas.





A produção tem uma excelente mensagem para garotas adolescentes e mesmo para nós, mais velhas (entreguei meus 33 anos aqui agora!), assim como para homens de todas as idades. 


É empoderador ao mesmo tempo que é uma excelente diversão e com uma ótima trilha sonora.


Moxie foi baseado no livro de mesmo nome de Jennifer Mathieu. E sempre que você compra algo na Amazon pelo link disponibilizado no blog ajuda a manter a página no ar.


Recomendo bastante.


Teca Machado

segunda-feira, 15 de março de 2021

Amigas Para Sempre - Série - Crítica

 Certa vez briguei com uma das minhas melhores amigas. Fiquei mais triste e arrasada do que quando brigava com namorados (e olha que eu sempre fui super dramática na adolescência, do tipo “vou morrer porque ele não gosta de mim”). Acho que naquele momento percebi que namorados vêm e vão, amizades de verdade são para sempre. E essa é mesmo, já é metade da vida de cumplicidade e ela é minha irmã de alma (Beijo, Rê!). E uma amizade assim profunda é o tema principal de Amigas Para Sempre, série disponível na Netflix desde o mês passado baseada no livro de mesmo nome da Kristin Hannah, publicado pela Editora Arqueiro em 2008.





Apesar de já ter lido o livro, confesso que não lembrava muito, pois foi há sete anos. Recordava do principal, do tema, das personagens, dos pontos centrais da história, do quanto eu detestei a Tully e achei a Kate uma monga. Então, de certo modo, assistir a série foi quase como sobre uma obra nova, até porque pelo que pude ver o roteiro mudou bastante coisa do original, inclusive o final, que imagino vão puxar para uma nova temporada. Se quiser ler a resenha do livro, é só clicar aqui


Amigas Para Sempre


Tully (Katherine Heigl) e Kate (Sarah Chalke) são amigas desde a adolescência. Amigas não: almas gêmeas. As pessoas geralmente usam essa expressão para relacionamentos românticos, mas os de amizade também se encaixam nesse conceito. As garotas são extremos opostos: Kate é a nerd, introvertida e insegura e nasceu numa família estruturada e aparentemente feliz. Já Tully é um furacão. Desde nova é uma estrela em ascensão, emoções a flor da pele, extrovertida ao extremo, mas ao mesmo tempo infeliz, além de ser filha de uma mãe viciada em drogas que nem ao menos parece perceber a presença da garota em sua vida. Apesar de tantas diferenças as meninas se completam. 





Enquanto Tully se tornou famosa, uma entrevistadora conhecida, rica e bem-sucedida, mas muito sozinha, Kate abandonou a carreira, se casou, teve uma filha e agora, ao passar por um divórcio, tenta reentrar no mercado de trabalho. É engraçado perceber como ambas são tristes e felizes ao mesmo tempo, invejando a vida da amiga sem saber os percalços. Elas se projetam uma na outra e vivem uma amizade profunda ao mesmo tempo que um tanto problemática, a meu ver, e numa relação total de codependência.


Enredo


Assim como no livro, passamos a acompanhar várias décadas das suas vidas. A vida no ensino médio, na faculdade, no início da vida adulta, quando já estão estabelecidas. A série passa nos anos 1970, no anos 80 e começo do novo milênio. O enredo é não-linear (algo já feito com muita maestria pela sensacional This Is Us), mostra acontecimentos passados, futuros, tudo ao mesmo tempo para construir uma narrativa que tenta colocar plot twists.


Amigas Para Sempre, além de falar sobre amizade, trata de temas importantes, como abuso sexual, maturidade, divórcio, relacionamentos amorosos, entre pais e filhos, escolha entre carreira e filhos e muito mais. O foco da série não é o público adolescente, como muitas produções da Netflix, mas uma faixa etária mais alta, com mulheres entre 30 e 45 anos.




A série é boa, assim como o roteiro, mas não é excelente. Foram 10 episódios com 50 minutos cada nessa primeira temporada, o que muitas vezes me deu a sensação de enrolação. Mas isso não é “mérito” da série, porque eu lembro que tive essa mesma sensação com o livro. Se você ler minha resenha aqui, vai ver que expliquei se tratar muito de uma história “comum” e que sai do nada e vai para o lugar nenhum. É uma trama legal, com uma mensagem bonita, mas que não empolga tanto.


Elenco


Heigl e Chalke estão muito bem, principalmente quando vivem as personagens já na fase dos 40 anos. E vale muito destaque para Ali Skovbye e Roan Curtis, que interpretam Tully e Kate na adolescência. As garotas souberam dar vida aos mesmos trejeitos e expressões das mulheres mais velhas e trazer muito mais emoção aos acontecimentos pelos quais passam. Há ainda Ben Lawson, que vive Johnny, marido de Kate e amigo das garotas desde a juventude. No livro seu personagem vive um triângulo amoroso muito mais trabalhado do que na série, o que achei que foi até melhor.




Amigas Para Sempre vale a pena, principalmente se você assistir sabendo que a série é boa, mas não a melhor produção do mundo. Tem uma bonita história de amizade e relacionamentos, intactos e quebrados. A Netflix ainda não anunciou uma segunda temporada, mas especula-se que ela vai acontecer.


Quando você compra um livro - ou qualquer produto - na Amazon pelo link disponível no blog, ajuda a manter a página no ar. 


O livro no qual a série foi inspirada tem uma continuação, chamado Por Toda Eternidade, também publicado pela Editora Arqueiro. Mas, se você não quer spoilers do que pode acontecer na próxima temporada, nem leia a sinopse.


Recomendo.


Teca Machado


sexta-feira, 12 de março de 2021

Time de Leitores 2021 – Companhia das Letras


Vocês perceberam um selinho novo na aba ao lado?


Ele significa que agora o blog é do Time de Leitores do grupo Companhia das Letras!




Sempre que tiver lançamentos que eles acharem que seja nossa cara, vão nos enviar para que possamos ler antes de todo mundo e contar para vocês o que a achamos.


Será que ficamos felizes por aqui?


Demais!


Livros dos vários selos do grupo. Foto: @casosacasoselivros


Companhia das Letras


Um dos maiores grupos editoriais do Brasil, a Companhia das Letras começou pequena, lá em 1986. Mas já no seu primeiro ano publicou 48 obras e começou a sua caminhada.


São hoje 18 selos:


Alfaguara
Boa Companhia
Brinque – Book
Clássicos Zahar
Companhia das Letras
Companhia das Letrinhas
Companhia de Bolso
Companhia de Mesa
Fontanar
Objetiva
Paralela
Pequena Zahar
Portfolio Penguin
Quadrinhos na Cia
Seguinte
Suma
Zahar


Livros dos vários selos do grupo. Foto: @casosacasoselivros


Alguns dos livros que mais gosto e gostei nos últimos anos foram publicados por alguns dos seus selos (Sim, Daisy Jones e Evelyn Hugo, estou falando de vocês!).


Mal posso esperar para conhecer os lançamentos de 2021!


Fiquem de olho que sempre vou trazer as novidades para vocês.


Bom final de semana! 


Não se aglomerem. Aproveitem para ficar em casa para ler um excelente livro. Aqui no blog trago inúmeras dicas.


Teca Machado


quarta-feira, 10 de março de 2021

Clouds - Crítica


Um garoto sem um único fio de cabelo no corpo, de muletas, extremamente bem-humorado canta no show de talentos da escola I’m Sexy And I Know It, de LMFAO. Esse é o tom de Clouds, do diretor Justin Baldoni (o mesmo de A Cinco Passos de Você), filme inspirado na história real de Zach Sobiech. Mesmo enfrentando um câncer terminal na adolescência, ele tira o melhor que a vida pode oferecer, sempre com a cabeça erguida.





Depois de A Culpa é das Estrelas veio uma onda de filmes e livros do gênero “sick lit”. O público até cansou um pouco de histórias do tipo. Mas isso já tem alguns anos e não é porque foram várias produções com o mesmo tema que não há obras ainda que valem a pena serem lidas ou assistidas. E passeando pelo Disney+ descobri Clouds, que já tinha visto o trailer muito tempo antes, mas havia esquecido. O filme seria lançado ano passado pela Warner, mas veio a pandemia e mudou os planos de todo mundo, então a Disney comprou os direitos e lançou direto no seu serviço de streaming.


Clouds


Clouds é a história real de Zach Sobiech, interpretado por Fin Argus. Adolescente, desde muito jovem ele lida com o câncer. Próximo do fim do ensino médio e após inúmeras rodadas terríveis de quimioterapia, Zach acredita que finalmente se curou. Até que justamente antes do encontro com a garota pelo qual é apaixonado, precisa de uma cirurgia de emergência, quando descobrem que o câncer não só voltou como se espalhou, o transformando num paciente terminal com poucos meses de vida. Mas, como o começo do filme nos mostra, Zach vê a vida sempre de forma leve, ainda que tenha seus momentos de tristeza e escuridão pessoal. Então passamos a seguir Zach na busca de realizar seu sonho de ser músico junto com a melhor amiga Sammy (Sabrina Carpenter).





Realidade


Apesar de extremamente triste e de o espectador saber o desfecho desde o início (sim, lencinhos são necessários!), o roteiro de Clouds é extremamente bem escrito e foi feito um excelente trabalho de direção. Não há músicas tristes em cenas específicas, discursos profundos e sequências feitas exclusivamente para que o público chore, mas tem um tom quase de documentário, de “a vida como ela é”, o que deixa tudo ainda mais triste e de partir o coração, mas ao mesmo tempo inspirador e feliz, porque essa era uma característica de Zach e da sua vontade de deixar uma marca no mundo.


Clouds tem essa pegada muito real, principalmente porque a família do protagonista esteve muito envolvida com a produção, principalmente Laura Sobiech, a mãe de Zach, que escreveu o livro Fly a Little Higher: How God Answered a Mom’s Small Prayer in a Big Way, no qual o roteiro foi inspirado. Além disso, objetos pessoais do Zach foram usados no filme, como a camisa de flanela que ele veste no estúdio ao gravar Clouds, a muleta, a camiseta “Pants” e todos os itens do quarto do personagem, que foi recriado quase à perfeição.





Outro fato que deixou tudo com aspecto mais real foi o diretor conheceu Zach em 2013 filmando uma série documentário chamado My Last Days, que acompanhou pacientes com doenças terminais e mostrando como eles decidiram encarar a vida. No fim do filme, cenas reais do documentário são exibidas e podemos sentir a real essência de Zach, que foi trazida para a tela.


Música


Clouds não seria tão bom se o elenco não tivesse sido tão bem escolhido, especialmente Fin Argus. O ator, que viveu seu primeiro protagonista, soube dar o carisma, a alegria em meio à tempestade e os momentos de dor e desespero que o rapaz viveu. Ele é inspirador, com um sorriso contagiante e mostra vontade de viver. A gente vive essa montanha-russa de emoções junto dos personagens, não só ele, mas toda sua família, melhor amiga e namorada.


Além do elenco, outro ponto alto de Clouds é a trilha sonora. O título do filme é o nome da música que lança Zach e Sammy ao estrelato e eu duvido que você termine de assistir o filme sem estar cantarolando. Desde então eu já ouvi umas 200 vezes essa e outras canções do longa. E, apesar de ser da Disney as músicas aparecem na trama apenas em momentos de show, gravações e apresentações, não é um musical em que do nada os personagens começam a cantar e esse foi um acerto do diretor, porque manteve a narrativa com tom de realidade.



Zach Sobiech na vida real


Sim, Clouds, disponível na Disney+, é um filme triste, mas ao mesmo tempo feliz. Paradoxal, né? Mas é verdade. O coração da gente quebra e fica quentinho, tudo junto, pois Zach era realmente inspirador.


Recomendo bastante.


Teca Machado


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