Com a Netflix temos aberto os nossos horizontes e assistido produções de outros países que não seja dos Estados Unidos e da Inglaterra. Elas ainda são maioria, mas é só ver que temos uma abundância de séries, filmes e documentários de todas as partes do mundo e que, inclusive, fazem muito sucesso. E desde que vi o trailer de Isi & Ossi, uma comédia romântica alemã do diretor Oliver Kienle, fiquei com vontade de assistir. Afinal, não é o gênero que você pensa imediatamente quando se fala sobre filmes da Alemanha e me deixou curiosa.
Isi (Lisa Vicari, a Marta de Dark) e Ossi (Dennis Mojen) são completamente opostos. Ela é bilionária e cresceu com todas as regalias possíveis. Apesar de todos os esforços dos pais para que sempre se destacasse na escola, Isi não é das pessoas mais brilhantes, pelo menos não no modo tradicional de ensino. Ela é genial na cozinha, tanto que seu sonho é fazer um curso de chef em NY, algo que seus pais desaprovam completamente. Já Ossi é filho de mãe solo e neto de um ex-presidiário que deve ser o ladrão mais sem jeito do mundo. Ao contrário de Isi ele não teve muitas chances na vida, mas batalha para ser um lutador profissional de boxe. Isi conhece Ossi, com quem faz um trato: Para ter acesso a sua poupança precisa irritar os pais profundamente, então inventa um relacionamento com Ossi, a quem ela vai pagar a quantia necessária para que ele participe de uma luta. É um arranjo em que os dois ganham.
Como estamos falando de uma comédia romântica, é lógico que o casal se apaixona. Mas a forma como o roteiro anda, sem grandes situações e gestos amorosos ou mesmo vários clichês do gênero, é super gostosa de acompanhar. Isi, apesar de não ser esnobe ou tratar mal as pessoas, é extremamente mimada, ao passo que Ossi é grosso como uma porta. É quase uma releitura de A Dama e o Vagabundo.
O humor alemão não é nem de longe parecido com o americano – ou mesmo com o britânico. Não sei se é sempre assim ou se foi apenas nessa produção, mas ele é mais ácido, extremamente sarcástico e sem a risada óbvia, mas ainda assim é divertido. E o mesmo pode se falar das situações amorosas. Tem bem menos melodrama do que estamos acostumados e nem tem enormes demonstrações de amor e carinho. As brigas dos protagonistas são realmente mais pesadas, com verdades sendo jogadas na cara um do outro.
Os protagonistas são muito bons. Lisa e Dennis fazem bem seu trabalho. Nada espetacular, mas competente na medida do possível. Mas a melhor parte de Isi & Ossi são, sem dúvida, os coadjuvantes. O avô de Ossi (Ernst Stötzner), após ficar 16 anos na prisão quando ganha sua liberdade decide virar um rapper. O senhorzinho não tem filtro, troca palavrões e ofensas com outros rappers, e em suas letras critica imigrantes, faz piadas com nazismo e não consegue aceitar as mudanças pelas quais o país passou. Pode parecer que isso seria tudo menos engraçado, mas o humor ácido e a composição e carisma do personagem nos fazem gostar dele. Destaque também para Walid Al-Atiyat, que vive Tschünni o melhor amigo de Ossi e apaixonado pela mãe do amigo e Lynnea Smith, na pele de Camilla, a amiga de Isi que posta absolutamente tudo sem noção na internet.
Algo interessante é mostrar uma Alemanha que aqui no Brasil não estamos acostumados a ver. Sempre pensamos em um país extremamente próspero, rico e com tudo lindo e organizado. Mas Isi & Ossi exemplifica uma disparidade gigante entre as classes sociais e faz isso de forma surpreendentemente leve.
Falando bem a verdade, Isi e Ossi é desses filmes bem esquisitos e meio sem noção, mas no bom sentido, e que acaba nos divertindo ao trazer situações bem inusitadas (foco no vovô rapper que fala coisas esdrúxulas), mas que diverte por ser algo completamente diferente do que estamos acostumados a ver numa comédia romântica.
Recomendo.
Teca Machado