quarta-feira, 29 de abril de 2020

Sérgio - Crítica


Em 2003 durante a Guerra do Iraque e após a queda de Saddam Hussein, o Brasil, a ONU e de certa forma o mundo perderam Sérgio Vieira de Mello, Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Ele foi o primeiro brasileiro a chegar ao alto escalão da ONU, onde ele trabalhou por 34 anos, até falecer num atentado terrorista em Bagdá. Até mesmo o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, afirmava que ele era "a pessoa certa para resolver qualquer problema", pois atuou em alguns dos principais conflitos das últimas décadas.


Depois de assistir ao trailer do filme Sérgio, da Netflix, do diretor Greg Baker, e pedaços do documentário de mesmo nome, também dele, achei que encontraria uma produção mais política ou mesmo autobiográfica. Fiquei realmente interessada em saber mais sobre o profissional e seu trabalho. Mas, no fim das contas, a produção focou principalmente no seu relacionamento com Carolina, com quem ficou durante seus últimos anos de vida.

Sérgio já começa com o protagonista, vivido por Wagner Moura, sendo Alto Comissário da ONU. Sabemos que ele é um homem poderoso, um gerenciador de conflitos que consegue o que quer e está tentando transformar o mundo num lugar melhor. E então o seguimos em suas duas últimas missões: em Timor Leste e no Iraque. O filme não tem uma ordem cronológica, então temos vislumbres desde o começo dos seus últimos momentos de vida e de como ele foi parar em Bagdá, mesmo contra sua vontade.



Vi umas críticas no IMDb que realmente sintetizaram o que eu senti assistindo: “Cobre importantes eventos de uma maneira muito preguiçosa”, “uma oportunidade perdida de trazer a conscientização ao trabalho de um homem tão importante”, “sabemos que sua relação foi importante, mas seu trabalho foi muito mais”. Além disso, o filme não mostrou facetas do documentário que mostram o seu lado pessoal, como o fato do relacionamento com os filhos, com as mulheres (era notoriamente um mulherengo) e sua paixão pelo Rio de Janeiro, a terra natal.

Teria sido muitíssimo mais interessante para o espectador ver mais das suas missões, das suas negociações tão incríveis que o fizeram até mesmo ser cotado para suceder a Kofi Annan como secretário-geral da ONU quando chegasse o momento. Acredito que seria uma forma melhor de honrar seu trabalho e o seu legado. O episódio da sua morte foi tão pesado que até mesmo abalou o papel da ONU como solucionadora de conflitos. Depois disso, sua reputação não foi mais exatamente a mesma, e isso é algo que o filme não fala.



Uma dos maiores acertos do filme são as atuações. Wagner Moura em todos os seus trabalhos dá tudo de si. E nesse caso não é diferente. O tom de voz, o olhar duro quando necessário, a autoridade na fala, ele traz tudo isso que era tão presente em Sérgio. Tem um quê de super-herói, de alguém que realmente faz a diferença. Mas sem esquecer o sorriso e o carisma, sempre tão marcantes no diplomata. E Moura tem bastante química com Ana de Armas, que interpreta Carolina. A relação deles é construída do início. Crível, ela é bonita, ainda que em excesso e lotada de clichês (o primeiro beijo na chuva, o pedido de desculpas numa sala iluminada por velas e origamis – que um funcionário do alto escalão da ONU nunca teria tempo de fazer -, as andanças de moto).

O roteiro é simples, fácil de acompanhar e mesmo quem não entende nada de política externa, diplomacia ou trabalho da ONU consegue entender. A fotografia é bem bonita e a direção soube fazer uso dos cenários tão diversos – Timor Leste, Rio de Janeiro, Bagdá e outros.

Sérgio, no fim das contas, é um bom filme, ainda que mais pareça um romance do que a biografia de um diplomata.

Recomendo.

Teca Machado


segunda-feira, 27 de abril de 2020

Troca – Pré-venda


Vocês se lembram de quando eu falei aqui sobre o livro A Princesa Guerreira, da Naila Barboni Palú e de como eu amei a história?  E de quando comentei aqui sobre o livro Estarei Em Casa Para o Natal – no qual tem um conto meu – e que a história da autora foi uma das minhas preferidas?

Então, a Naila ataca novamente, mas dessa vez com livro novo!

Conheça Troca: 

Imagem: Facebook Naila Barboni Palú

“E se Rumpelstiltskin decidisse bagunçar a vida de alguns descendentes de personagens de Contos de Fada?

Dara acorda sem saber o que está acontecendo. Está no escuro, não reconhece o pouco que consegue perceber do local onde se encontra e se sente nauseada aparentemente sem razão.

É assim que começa uma série de eventos que irão desnortear muita gente. 

Relembre as histórias da sua infância e testemunhe o caos que irá se tornar a vida de Dara e de outras personagens.”

E eu que neeeeeeem gosto de contos de fadas e de histórias baseadas neles, já comprei o meu estou aguardando ansiosamente chegar no Kindle.

Troca está em pré-venda na Amazon até o dia 15 de maio.

E quem adquirir antes do lançamento oficial e mandar o comprovante para a autora, vai receber brindes. Oba!

Nem li, mas já recomendo (não só porque é minha amiga, mas porque a histórias dela são deliciosas e envolventes mesmo, juro).

Vamos comprar já na pré-venda Troca e os outros livros da autora?


Teca Machado



sexta-feira, 24 de abril de 2020

Ordem – Trilogia Silo - Resenha


Depois da leitura de dois romances, quis ler um gênero diferente. Não sei vocês, mas gosto de misturar os estilos de leitura para não enjoar de determinado tema. Como fazia tempo que eu não lia distopia, resolvi escolher Ordem, segundo da trilogia Silo, de Hugh Howey, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca. O único problema disso foi que ler um livro sobre o fim do mundo no meio de uma pandemia de proporções épicas não é uma das ideias mais brilhantes, né?

Foto: @casosacasoselivros

A premissa da série, que conta com os volumes Silo, Ordem e Legado, é que depois que o mundo acabou, os poucos remanescentes da humanidade sobrevivem num gigantesco silo subterrâneo. As pessoas vivem sob estritas regras em comunidade onde o maior crime é querer ir para fora do silo. Aqueles que expressam esse desejo – ou comentem algum crime grave – são mandados para a limpeza. Ou seja, vão para o lado de fora limpar as câmeras que transmitem ininterruptamente imagens do desolado e acabado mundo exterior.

Os próximos dois parágrafos contêm spoilers do primeiro livro. Então, leia por sua própria conta em risco.

Depois de bombásticos acontecimentos de Silo, é natural esperar que Ordem seja a continuação da história. Mas, na verdade, o enredo se passa quase todo antes de Silo e o terço final da obra é simultâneo com o fim do volume inicial.

Por mais que o leitor esteja ansioso para saber como tudo continua, Hugh Howey nos envolve com toda conspiração que levou o mundo a acabar e porque a humanidade vive nesses espaços subterrâneos – sim, no plural, porque no final de Silo descobrimos que não há apenas um, mas vários. Além disso, entender como o planeta chegou àquele ponto e quem fez isso é importante para o caminhar da história.

Dividido em três partes, chamadas de Legado, Ordem e Pacto, o livro conta com a narrativa do deputado Donald Keene, que foi convidado pelo poderoso senador Thurman para participar de um projeto gigantesco antes de tudo acontecer, de Troy, uma espécie de diretor do Silo 1, responsável por gerir todos os outros silos e o único que sabe da existência de todos e do motivo de viverem neles, e de Mission e Jimmy, moradores de alguns dos silos que são importantes para o leitor saber o que está acontecendo em outros locais.

Ordem é extremamente interessante. Os mistérios do primeiro livro começam a ser respondidos, assim como indagações trazidas nesse volume. E ainda há toda a questão claustrofóbica de estar preso a mais de 100 andares abaixo da superfície e não ter para onde ir. Fico pensando na logística de um lugar nesse e fico desesperada de saber que não tem elevador! Confesso que estou extremamente curiosa para continuar e saber como acaba.

Mas, por melhor que seja o livro, ele tem um problema: a sua leitura é lenta. Sabe aquela história boa, envolvente, que te prende, mas que você passa 3 horas lendo e quando vai ver só foram 10 páginas? É o caso. Não sei por que isso acontece, talvez seja por falta de ação propriamente dita ou a falta de alguém extremamente interessante como Juliette, uma das protagonistas do primeiro livro. Mas ainda com esse problema de fluidez é melhor e mais dinâmico que Silo, pelo menos que eu me lembre.



Mesmo que o motivo da destruição do mundo não tenha sido nem tão grande e nem tão impactante para mim (cara, eu MATARIA se soubesse que estou enfurnada num silo subterrâneo sem luz do sol por causa disso!), sinto que temos muito ainda a descobrir em Legado.

Recomendo (mas acho que você não deveria ler essa trilogia em plena pandemia apocalíptica!).


Teca Machado

P.S: Silo está baratinho na Amazon! Se quiser começar a leitura dessa série é só clicar aqui em cima.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Virgin River - Crítica


Sabe aquele lugar lindíssimo que você vê em séries, filmes e livros e pensa: Eu gostaria de morar lá? Foi essa a sensação que tiver com a pequena e fofíssima Virgin River, cidade fictícia que dá nome a série da Netflix que está no catálogo desde dezembro e só agora conferi.


No enredo acompanhamos Mel (Alexandra Breckenridge), uma enfermeira que deseja fugir de Los Angeles e de todas as tristes lembranças que o local traz. Por isso ela aceita um emprego de enfermeira na pequena e bucólica Virgin River, uma cidade no extremo norte da Califórnia. Sua intenção é um recomeço, longe de tudo o que lhe era familiar. Mas isso nem sempre é fácil. A começar pela casa em que vai morar, que é um caos, e pelo seu novo chefe Doc (Tim Matheson), que não quer aceitar uma auxiliar contratada por Hope (Annete O’Toole), prefeita da cidade. Lá ela conhece Jack (Martin Henderson), dono do bar da cidade e um ex-militar cheio de traumas de guerra. Mel deseja desistir, mas os moradores da cidade fazem tudo para que ela fique. A protagonista precisa entender que pode mudar até de planeta, mas suas dores e conflitos sempre a acompanharão.

O grande feito de Virgin River são os personagens, o cenário, o ar da cidade pequena. O roteiro não tem nada de extraordinário. Todo mundo que já leu/viu obras de Nicholas Sparks, Emily Giffin e outros autores do gênero vai identificar as reviravoltas e os dramas sem grandes dificuldades. Mas é acredito que a questão aqui é como disse Lisbela (Débora Falabella) em Lisbela e o Prisioneiro sobre os clichês: “A graça não é saber o que acontece. É saber quando acontece e como acontece”. Mesmo que você saiba ou adivinhe qual é o plot twist, se ele é bem feito e interpretado, não temos problema nenhum com isso. E é o caso de Virgin River.




Apesar de Mel ser a protagonista, há muitos personagens cujos arcos são extremamente importantes tanto para o desenvolvimento dela quanto para deixar a história mais interessante. Os principais nesse caso são Jack e seu passado, Hope, definitivamente a pior personagem e que te irrita até o último fio de cabelo, e Doc, que é durão, mas tem um coração de ouro.

Mel é a garota da cidade grande que chegou no pequeno vilarejo, onde todo mundo se conhece e sabe tudo da vida do outro – e inclusive se intromete. Ela demora a se adequar a esse estilo de vida, mas percebe com os dias que a comunidade é uma grande família, com as pessoas cuidando uma das outras de uma maneira que não acontece numa metrópole.



E além desse motivo para se querer morar na gracinha que é Virgin River, ainda tem toda a questão visual. Uau! Que lugar lindo! A cidade é fictícia, mas a série foi filmada nos arredores de Vancouver. Eu já queria conhecer o Canadá, agora mais ainda. A fotografia é nada menos do que belíssima. E é completado pelo figurino da Mel. Eu com certeza me vestiria com todas as roupas do guarda-roupa dela.

Muitas pessoas comparam Virgin River com a série Hart of Dixie, por toda questão de cidade pequena e recomeços. Mas não assisti, então não posso comentar o assunto.

Virgin River é baseada na série de livros de mesmo nome de Robyn Carr, publicada no Brasil pela Editora Harlequin. A primeira temporada conta com 10 episódios com cerca de 40 minutos cada e dá para assistir bem rapidinho. A segunda temporada foi confirmada já pela Netflix, mas devido ao Covid, que parou basicamente tudo no mundo, não há data de estreia, nem de retomada de produção.


Recomendo.

Teca Machado

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Talvez Um Dia - Resenha


Se a Colleen Hoover publicar um bilhetinho escrito “comprar leite”, eu vou ler com prazer. É esse o nível de admiração que eu tenho pela autora, cujos livros no Brasil são publicados pela Editora Galera Record. Tudo o que já li dela me emocionou, me deixou deitada na BR atropelada por sentimentos (Alô, Um Caso Perdido!), me fez chorar e mesmo me destruindo por dentro me deixou com o coração quentinho. Suas histórias, que são romances contemporâneos, têm o poder de fazer isso com a gente. E no caso de Talvez Um Dia, não foi diferente.

Foto: @casosacasoselivros

Em Talvez Um Dia Sidney tem o pior aniversário de 22 anos que se poderia imaginar. Perdeu seu apartamento, seu namorado, sua melhor amiga e ainda ficou com o punho doendo por causa do soco que deu no nariz dela. Totalmente sem rumo, acaba aceitando a ajuda de Ridge, seu vizinho com quem nunca conversou, mas que diariamente observa tocar violão pela sacada. Ridge, que é músico, está passando por um bloqueio criativo, mas descobre em Sidney alguém com quem escrever letras incríveis para as suas melodias.

Como acontece na maioria dos livros da Colleen Hoover, a sinopse simplista e sem um grande tcham pode levar o leitor a pensar que é apenas mais do mesmo, um romance new adult normal. Mas essa é uma forma de não dar spoilers de um enredo que traz muito mais do que aparenta. E posso dizer que a autora nunca nos decepciona e traz uma leitura extremamente fluida. Quando você percebe, o livro já acabou.

Colleen Hoover
Sidney e Ridge são ótimos personagens. E como os capítulos são alternados com o ponto de vista de cada um, entramos em suas mentes. No caso de Sidney, a compreendemos logo de cara. Ela é uma pessoa boa e seus sentimentos estão sempre muito evidentes, não há mistérios que a cercam. Já com Ridge é um pouco diferente. Ele tem questões muito profundas que vão sendo explicadas ao longo do livro e a cada uma delas é um soco no estômago, uma revelação poderosa. Durante muitos capítulos simplesmente não entendemos por que ele não pode largar tudo e ficar com Sidney, mas quando descobrimos faz todo o sentido.

Talvez Um Dia é provavelmente o livro menos trágico de Colleen Hoover, o menos triste. Mas isso não significa que não seja intenso. As cenas em que Rigde pede que Sidney cante para ele são simplesmente uau! Não posso me alongar sobre isso porque seria spoiler, mas o que posso afirmar é que é extremamente profundo, intenso, sensível e mesmo ardente.

Um dos maiores pontos fortes da obra é a parte musical. Cada letra escrita pela dupla, cada canção, tem o seu processo de criação mostrado e todas fazem sentido com o que os personagens passam. E elas são realmente lindas! Para melhorar tudo ainda mais, o músico Griffin Peterson colocou melodia e as gravou. Assim que terminei de ler, passei dias escutando a playlist, disponível no Spotify e no Deezer.

Talvez Um Dia não me arrancou lágrimas e é um livro leve, considerando os padrões da Colleen Hoover. Mas nem por isso deixa de ser lindo, tocante e sensível.


Recomendo muito, ainda mais para a quarentena.

Teca Machado


quarta-feira, 15 de abril de 2020

Um Amor, Mil Casamentos - Crítica


Você já parou para pensar na aleatoriedade do mundo? Em como se um antepassado seu fosse para a esquerda ao invés de para a direita essa decisão poderia significar você nunca nascer? Do mesmo modo, o simples ato de sentar-se em um lugar da mesa ao invés de ao lado pode transformar drasticamente o seu dia. Essa é premissa de Um Amor, Mil Casamentos, filme da Netflix do diretor Dean Craig, que entrou no catálogo na semana passada.


Remake do filme francês de 2012 Plan de Table, Um Amor, Mil Casamentos mostra várias versões da mesma festa de casamento. A diferença entre cada realidade alternativa é a posição em que os personagens se sentaram na mesa e em como esse detalhe pode mudar tudo, inclusive acabar com relacionamentos, criar outros, abalar amizades, gerar brigas e muito mais. O ponto principal é: “A vida é feita de escolhas e momentos. Se você não aproveitar, o acaso pode ser bem inconveniente”.

É até um pouco difícil falar sobre Um Amor, Mil Casamentos porque eu gostei do filme. Gostei mesmo. Achei divertido, engraçado em vários momentos, com um enredo diferente e que beira o nonsense. Além de ter uma fotografia lindíssima. Mas, aparentemente, eu fui uma das poucas que achou isso. Vi inúmeros comentários negativos sobre a produção, em que as pessoas não riram, acharam chato, sem sentido e forçado. Quando falamos sobre comédia é um pouco difícil agradar todo mundo.



O elenco conta com Sam Claflin e Olivia Munn. Eles vivem Jack e Dina e se conheceram anos antes, se gostaram, mas por causa do acaso (e covardia) não se beijaram. Agora, durante o casamento de Hayley (Eleanor Tomlinson), irmã de Jack e amiga de Dina, eles se reencontram. Mas os lugares em que se sentam à mesa dos convidados pode influenciar o relacionamento para o bem ou para o mal, assim como dezenas de outras coisas.  Infelizmente o casal não tem muita química, então não é aquele tipo de relacionamento que o espectador fica quicando na cadeira torcendo por eles.

Há vários enredos acontecendo ao mesmo tempo: Jack e Dina tentando desesperadamente se aproximar, Hayley em pânico porque um ex-namorado (Jack Farthing) aparece drogado e apaixonado ameaçando destruir o casamento, Jack cuidando disso ao mesmo tempo que lida com Amanda (Freida Pinto), a ex-namorada que aparece com o novo namorado (Allan Mustafa) que é extremamente preocupado com os seus genitais, Bryan (Joel Fry), ator que deseja conhecer um diretor que está na festa, Rebeca (Aisling Bea), que gosta de Bryan, que nem se importa com ela, e Sidney (Tim Key), totalmente sem noção que só deseja ser amado pelos amigos.



O que fica claro durante o enredo é que não necessariamente é o destino de um casal ficar junto, mas as decisões que ele toma em relação a tudo o que a aleatoriedade joga em seu colo. É um pouco contrário da maioria dos romances, que afirmam que era para ser ou que já estava escrito.

Sem dúvida, uma das melhores cenas de Um Amor, Mil Casamentos é quando Bryan faz um discurso extremamente chapado para os noivos. Aliás, geralmente as sequências em que ele aparece são ótimas. E é divertido acompanhar as versões do que poderia ter sido em cada um dos casos. Apenas em duas delas o enredo se estende mais, mas é nas outras realidades em que mais rimos e nos divertimos.



Então, se você se interessou por Um Amor, Mil Casamentos e for assistir, saiba que eu gostei, mas muita gente não. Vai ser por sua conta em risco.

Eu recomendo, mas nem todo mundo concorda.

Teca Machado


segunda-feira, 13 de abril de 2020

Modern Love - Crítica


No dia 31 de outubro de 2004 o jornal The New York Times inaugurou uma coluna chamada Modern Love, onde semanalmente histórias de amor reais, contadas em primeira pessoa, são publicadas. E quando se fala sobre amor, o foco não é o apenas romântico, mas também do de amizade, fraternidade, o próprio e os mais diversos e mesmo não convencionais. E foi baseado nesses contos que a Amazon Prime produziu a série de mesmo nome que está em seu catálogo (e tem uma música e montagem de abertura maravilhosas!).


A primeira temporada conta com oito episódios, cada um uma história diferente. Uns ótimos, alguns muito bons e uns piorzinhos, mas de modo geral é uma série extremamente gostosa de se assistir e feita para encher o nosso coração de um sentimento quentinho e de aconchego. Todos são inspirados em histórias reais e nos textos recebidos para a coluna, mas a produção deixa bem claro que alguns fatos foram alterados para que pudesse encaixar melhor no formato cinematográfico.

1- When The doorman is your main man


O primeiro episódio é um dos que mostram o amor mais diferente. Maggie (Cristin Milioti) é uma jovem que mora sozinha, mas que de certa forma é cuidada por Guzmin (Laurentiu Possa), o porteiro do seu prédio. Ele, já mais velho, tem um sentimento que é uma mistura de amizade com cuidado de pai que fica ainda mais evidente quando a garota engravida. É uma relação fofa, onde ele claramente só quer ver a sua felicidade. Esse foi um dos meus preferidos.


2- When cupid is a prying journalist


Joshua (Dev Patel) é o criador de um app de relacionamentos extremamente bem sucedido no ramo profissional, mas no pessoal nem tanto. Quando é entrevistado pela jornalista Julie (Catherine Keener), ambos trocam relatos dos seus casos de amor que não deram muito certo.


3- Take me as I am, whoever I am


A advogada Lexi (Anne Hathaway) sofre com bipolaridade, que atrapalha sua vida pessoal e profissional. Em seus altos, tudo em Lexi é excêntrico, feliz e exultante e nos baixos é um poço aparentemente sem fundo. A questão é mostrada sem romantização da doença e com uma atuação mais do que excelente.


4- Rallying to keep the game alive


O casal Sarah (Tina Fey) e Dennis (John Slattery) vive uma crise conjugal quando notam que não tem mais nada em comum. Ambos começam terapia para salvar o casamento e percebemos que a relação é uma metáfora para um jogo de tênis.


5- At the hospital, an interlude of clarity


Durante o segundo encontro, Rob (John Gallagher Jr) e Yasmine (Sofia Boutella) vão parar no hospital. Trocando histórias de vida e confissões sobre quem realmente são, o casal em potencial tenta acertar os ponteiros em meio a remédios, sangue e cortes. É um episódio divertido e que me fez sorrir.


6- So he looked loke dad. It was just dinner, right?


Maddy (Julia Garner) perdeu seu pai quando era muito nova e a falta que ele faz permeia a sua vida. Então ela começa a enxergar em Peter (Shea Whingham), um colega de trabalho, uma figura paterna. Enquanto Maddy o vê como pai ele entende como um relacionamento sexual. Esse é definitivamente o pior episódio, esquisito do início ao fim e com sérios problemas de roteiro, construção e personagens.


7- Hers was a world of one


O casal Tobin (Andrew Scott) e Andy (Brandon Kyle Goodman) desejam adotar uma criança. Então conhecem Karla (Olivia Cooke), grávida, nômade e que sabe que um bebê não pode a acompanhar. Ela decide escolher Tobin e Andy para serem os pais do seu filho e nesse caminho surge uma amizade inesperada e bonita. Também foi um dos episódios que mais gostei.


8- The race grows sweeter near its final lap


Margot (Jane Alexander) corre diariamente e numa das provas conhece Ken (James Saito). Mesmo já machucados pela vida, se apaixonaram idosos. Mas isso não os impede de viver intensamente um novo amor. Esse episódio é uma das coisas mais bonitas que vi nos últimos tempos. Aquece e destroça nosso coração com sua sensibilidade e delicadeza. E de certa forma conecta todas as outras histórias em seus minutos finais.

Modern Love é bonita, sensível e conta com boas histórias de amor e ótimas atuações, além de ser uma série rápida de assistir. A segunda temporada já foi confirmada, mas em tempos de Corona vai saber quando será gravada.

E se você quiser ler as histórias nas quais os episódios foram baseados e muitas outras, a Editora Rocco lançou o livro que é uma coletânea delas e foi organizado e editado por Daniel Jones. A Amazon está com pré-venda da obra e se você deseja ajudar esse blog a crescer, pode comprar diretamente nesse link:



Recomendo.

Teca Machado

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Produções cheias de feel good para a quarentena


É, a quarentena não está sendo fácil para ninguém, nem para os que estão isolados em casa e nem para os que precisam sair para trabalhar e se expor ao mundo real. E em meio a tantos filmes para ver, livros para ler, série para assistir e cursos para fazer, além de sermos bombardeados por milhões de notícias ruins o dia todo, às vezes tudo o que precisamos é de algo no melhor estilo “feel good”. 

Muitas produções são categorizadas como feel good, que como o próprio já diz em inglês é para se sentir bem, trazer sentimentos otimistas, leves e felizes. E nesses meses de caos que temos vivido, nada melhor do que se rodear do que vai te trazer sensações boas. 

Por isso, trouxe para vocês uma lista dos meus eternos feel good, não só em tempos de quarentena:

1- Filme: Mamma Mia e Mamma Mia: Here We Go Again



Ah, eu tenho uma paixão louca e enorme por esses filmes. Estou feliz? Assisto. Estou triste? Assisto. Estou doente? Assisto. Estou entediada? Assisto. Eles sempre me botam um sorriso no rosto. Afinal, quem não quer uma história divertida, num lugar belíssimo e com músicas do ABBA? Sei que eu quero.


2- Filme: Simplesmente Amor




Tudo bem que esse filme tem a temática de Natal e é muito mais propício para o fim do ano, mas eu assisto em qualquer época. Apesar de alguns enredos serem mais tristes, ele sempre deixa o meu coração quentinho, completamente aconchegado e eu termino de assistir com uma sensação de bem-estar.

E como bônus incluo aqui O Amor Não Tira Férias, também passado no Natal e que deixa uma sensação maravilhosa de otimismo.



3- Música: Michael Bublé


Quem me conhece pelo menos um pouquinho sabe do meu amor desenfreado pelo cantor. Seu estilo que mistura gravações de grandes clássicos de Frank Sinatra e outros ícones das décadas de 40, 50 e 60 e composições originais, é tudo o que eu preciso para acalmar mente e coração, ou mesmo para escutar em qualquer momento da vida. Sua voz, seu carisma e seu ritmo sempre me fazem sentir serena.


4- HQ: Calvin e Haroldo


Gosto tanto dos quadrinhos desse menino terrível e do seu tigre que o meu cachorrinho chama Calvin Haroldo. Eles nos fazem rir com humor às vezes infantil, às vezes non sense, sempre inteligente, ou mesmo trazem questões reflexivas. Com frequência tiro a minha coleção da estante e releio trechos.


5- Série: Friends



Sei que Friends é o feel good de muita gente. Já devo ter assistido 200 vezes cada episódio e ainda assim me divirto como nunca. É aquela produção que a gente vê quando quer a garantia de leveza, final feliz, risadas e saber que não há surpresas desagradáveis te esperando.


6- Filme: Cantando na Chuva


Provavelmente é um dos maiores filmes feel good de todos os tempos! Cantando na Chuva te deixa com um sorriso gigante no rosto do começo ao fim por inúmeros motivos: as músicas, as danças, o carisma dos atores, a história e muito mais. La La Land, outro filme que sempre me deixa radiante, bebeu na fonte de Cantando na Chuva e é possível ver inúmeras referências.

*** 

E você, o que mais indica de produções no melhor estilo feel good para apreciar na quarentena?

Teca Machado

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Persépolis - Resenha


Imagine ser livre, fazer o que bem entende e, de repente, quase toda sua liberdade de ir e vir, de vestuário, de relacionamentos e tudo aquilo que faz parte da sua vida ser tirado de você. Essa foi a realidade de Marjane Satrapi – e de milhões de outras pessoas – quando em 1979 começou a revolução que levou o Irã ao opressor regime xiita. E toda sua trajetória, dos 10 anos até a idade adulta é contada na HQ autobiográfica Persépolis, publicada pela Quadrinhos da Cia, do grupo Companhia das Letras.

Foto @casosacasoselivros

No livro, que é um compilado dos quatro volumes publicados por Marjane Satrapi, acompanhamos três fases da sua vida: a infância no Irã, a adolescência em Viena e a vida adulta já de volta ao Irã. Vemos de forma clara aspectos importantes da história, como as guerras que aconteceram nas décadas em que se passa a obra, a discriminação e a opressão direcionada às mulheres e o quanto as batalhas e a ditadura podem marcar profundamente um povo.

Marjane Satrapi
Criada numa família moderna e com a mente aberta, Marjane desde muito nova era politizada. Desse modo, foi muito difícil para a garota se adaptar ao novo ambiente arbitrário, extremamente conservador e ditatorial. E sua personalidade combativa e rebelde, como vemos ao longo da história, a levou a passar por vários problemas, assim como a levou por caminhos libertadores.

Seus pais nunca a privaram de educação e informação, por isso Marjane teve acesso ao conhecimento, a livros, a filosofia, e cresceu com pensamento crítico e reflexivo bem apurado. E o fato de viver numa sociedade em constante guerra, repressão e medo fez com que desenvolvesse um senso apurado de justiça e em busca de saber quem realmente era.

Apesar do tema pesado, com todas as perseguições políticas, mortes, mártires, prisões e repressões, Marjane Satrapi conta sua vida de forma bem-humorada e bem criativa. Ao longo das páginas nos deparamos com situações até mesmo engraçadas em meio a outras extremamente tristes. A narrativa é fluida, divida em pequenos capítulos, e quando percebemos já lemos páginas e mais páginas.

A autora poderia mostrar apenas o seu lado bom, político, rebelde com causa e com sede de justiça. Mas não priva o leitor dos seus defeitos. Principalmente a medida que vai crescendo, enxergamos outro lado de Marji, com o uso de droga, as más companhias e mesmo acusar um inocente de indecências para que guardas da revolução não reparassem na sua maquiagem, algo proibido na época.



O livro é riquíssimo em contexto histórico e nos mostra uma realidade muito longe da brasileira, com repressão, guerras e dificuldades quase inimagináveis para nós. Por vezes a gente fica um pouco perdido nas questões políticas e territorialistas da obra, mas nada que prejudique a leitura ou o entendimento.

Os quadrinhos em preto e branco têm traços simples, bonitos e fáceis de acompanhar. Além disso, Persépolis ganhou uma versão cinematográfica em 2007, seguindo a mesma estética das HQs originais. A produção francesa foi nomeada ao Oscar de Melhor Animação e ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.


Persépolis é uma leitura diferente, boa para abrir a mente e conhecer outras realidades.


Recomendo.

Teca Machado


quarta-feira, 1 de abril de 2020

Midway: Batalha em Alto-Mar – Crítica


Um dos eventos mais retratados pela humanidade em filmes, livros e séries é a II Guerra Mundial. Todos nós sabemos o básico: Hitler, nazismo, campos de concentração, Pearl Harbor, bomba atômica, Aliados vencem. Mas os anos de 1939 a 1945, período que durou o embate, é recheado de detalhes, pequenos – ou mesmo grandes – acontecimentos que mudaram o rumo da guerra e que nós muitas vezes não estudamos na escola. Não sei vocês, mas antes de Dunkirk, de Christopher Nolan, e O Destino de Uma Nação, de Joe Wright, ambos de 2017, eu não sabia sobre a Operação Dínamo, do Reino Unido, que resgatou cerca de quatrocentos mil soldados cercados por tropas da Alemanha Nazista. E o mesmo aconteceu para mim sobre Midway, batalha retratada no filme de mesmo nome do diretor Roland Emmerich, que assisti no fim de semana pela Amazon Prime.


Até o atentado contra Pearl Habor, em 1941, os Estados Unidos estavam relativamente neutros na II Guerra Mundial. O Japão, aliado à Alemanha, estava expandindo freneticamente o seu império nos territórios ao redor. Até que os EUA fizeram uma sanção de fornecimento de petróleo ao país oriente, que já havia avisado que retaliaria caso isso acontecesse. E foi esse o motivo do ataque à ilha havaiana. Começou, então, o embate entre EUA e Japão que terminou com o lançamento das duas bombas atômicas. Mas nesse meio tempo aconteceu a batalha de Midway, uma pequena ilha no Pacífico que pertencia aos EUA, mas que o Japão queria tomar.

Quando falamos sobre a questões políticas, militares e estratégicas, Midway: Batalha em Alto-Mar é um filme muito bom, mostrando bastante o trabalho da Marinha americana e a importância do serviço de inteligência. Apesar de não ser um fato muito conhecido sobre a guerra foi um acontecimento que mudou o rumo das vitórias do Japão. E logo depois que o filme terminou, assisti ao episódio sobre o tema do documentário da Netflix Grandes Momentos da Segunda Guerra em Cores (muito bom! Recomendo). E pude ver que a produção de Emmerich foi fiel ao que realmente aconteceu.




Entretanto Midway: Batalha em Alto-Mar falha um pouco na construção dos personagens. Eles foram pessoas reais, mesmo os protagonistas do filme, mas de certa forma o espectador não se conecta com eles. Tem um tanto de caricatura entre os soldados, como o novato com medo, o que não teme a morte, o audacioso, o arrogante, entre outros. E mesmo os protagonistas Dick Best (Ed Skrein) e Edwin Layton (Patrick Wilson), quando o roteiro tenta mostrar um pouco da sua humanidade e vida em família não aprofunda muito. Mas isso não chega a incomodar, porque o filme não se propõe a ser uma história romântica e densa, como foi com Pearl Habor, em 2001. Midway é um filme de batalha, guerra e estratégias, não dramas humanos. 

O elenco conta com nomes muito bons e conhecidos, como os já citados Ed Skrein, Patrick Wilson, Luke Evans, Woody Harrelson, Mandy Moore, Dennis Quaid, Aaron Eckhart, Nick Jonas e Darren Criss. Mas como o roteiro não foca em realmente nenhum deles ou nas suas subtramas seus papeis são pequenos. Todos retratam pessoas reais que deixaram o seu nome na História por causa das suas ações em Midway e em outros acontecimentos da guerra.




Rolland Emmerich tem em seu currículo vários filmes de destruição e patriotismo americano (ainda que ele seja alemão), como Independence Day, Godzilla, O Dia Depois de Amanhã e Soldado Universal. E Midway não deixa der seguir essa linha. O filme tem características muito próprias do diretor em suas cenas de ação, caos, destruição e esquema de cores. É um show visual, principalmente nas cenas em que acontecem as batalhas aéreas, nos dando uma sensação de aturdimento e cegueira que provavelmente os pilotos tinham.

Midway: Batalha em Alto-Mar é um ótimo filme de ação que nos mostra de maneira bem fiel os acontecimentos desse embate importante, mas pouco conhecido, da II Guerra Mundial.

Recomendo.

Teca Machado

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