No ano passado eu via todo mundo falando sobre o tiro que foi o livro O Ceifador, de Neal Shusterman, publicado pela Editora Seguinte (Companhia das Letras). Eu fiquei interessada, mas eram tantas obras para ler, tão pouco tempo, que acabei deixando passar. Ainda mais porque já tinha lido do autor Fragmentados e tinha gostado, apenas isso, não ótimo. Há um tempinho recebi da editora A Nuvem, livro dois da série Scythe, continuação de O Ceifador. E decidi que era a hora de me aventurar na leitura, começando pelo primeiro. Melhor decisão de agosto.
A premissa de O Ceifador é diferente. A distopia com um toque de ficção científica nos mostra um mundo no futuro onde todos os problemas do planeta, inclusive a morte, foram resolvidos. A Nimbo-Cúmulo, uma evolução da Nuvem de dados que temos hoje, tomou consciência e faz a gestão do planeta. Mas algo que ela não conseguiu solucionar foi a superpopulação. A morte deixou de acontecer, mas os nascimentos não pararam. Então foi criada a Ceifa, um órgão autônomo no qual os membros, chamados ceifadores, têm permissão e ordem para coletar – uma palavra mais bonita para matar – e manter o número de pessoas no mundo estável. A morte passou a ser a exceção, não a regra.
Apesar de ser uma profissão nobre, ninguém quer ser ceifador, ninguém deseja matar. Mas eles são necessários. E Citra e Rowan, dois adolescentes, são escolhidos pelo Ceifador Faraday para serem seus aprendizes, mesmo contra sua vontade. O treinamento é rigoroso, cruel e mexe com a sanidade deles, mas apenas um será escolhido no final para o cargo.
O livro é narrado em terceira pessoa por Citra e Rowan, então temos acesso irrestrito aos dois personagens. Há ainda no início de cada capítulo trechos do diário de ceifadores famosos, o que nos dá uma visão mais ampla da Ceifa e do mundo. Os dois protagonistas são pessoas comuns, jogadas num jogo político cruel e árduo, do qual não querem participar, mas também não desejam deixar para trás. A personalidade de ambos é diferente, mas compartilham de um senso de dever e ética apurados, o que os leva a serem escolhidos como aprendizes. Claro que erram pelo caminho, mas aprendem e fazem limonada do limão que receberam.
Além deles, há outros personagens interessantes, como o ceifador Faraday, a quem me apeguei muito durante a leitura, a ceifadora Curie, famosa por grandes coletas e que leva o nome de Grande Dama da Morte, e o ceifador Goddard, não tão ético quanto os anteriores e que gosta de realizar massacres e se diverte no cargo. Todos eles são profundos, com intensidades diferentes e modos de trabalhar. Goddard é vilão, é cruel e mata por esporte, mas consegue deslumbrar aqueles ao seu redor – até mesmo o leitor! – e nos cria sentimentos contraditórios.
O mundo que Neal Shusterman criou parece maravilhoso. Não tem doenças, não tem mortes (se você morreu, é só ressuscitar), nem nada ruim. Até mesmo depressão e outros distúrbios do tipo foram solucionados. Mas, como Faraday constantemente afirma, a mortalidade mostrava o pior – mas também o melhor do ser humano. E isso é algo a se pensar. No que eles chamavam de Era da Mortalidade, as pessoas eram mais intensas, mais felizes, as criações musicais e artísticas tinham mais sentimento e a sensação de não saber quando seria seu último dia na Terra nos faz correr atrás dos sonhos. Nesse universo, nem mesmo há religiões, então não existe o sentimento de busca e plenitude que ela dá. A imortalidade traz tédio, marasmo, os anos parecem dias e as décadas passam sem grandes acontecimentos. A vida se torna banal.
A trama é complexa – mas não ao extremo, e muito bem amarrada. Trata-se de uma série, então ele termina com um gancho para o próximo volume, só que com um enredo de certa forma fechado, com alguns arcos resolvidos. Há ação, há conflitos internos e questionamentos sobre o que é humanidade. Neal Shusterman escreve de forma crível. O mundo é utópico, mas entramos tão a fundo na leitura que vivenciamos tudo aquilo. Os rumos que o enredo toma são surpreendentes e as páginas voam em nossas mãos.
Segundo volume da série Scythe |
A trama é complexa – mas não ao extremo, e muito bem amarrada. Trata-se de uma série, então ele termina com um gancho para o próximo volume, só que com um enredo de certa forma fechado, com alguns arcos resolvidos. Há ação, há conflitos internos e questionamentos sobre o que é humanidade. Neal Shusterman escreve de forma crível. O mundo é utópico, mas entramos tão a fundo na leitura que vivenciamos tudo aquilo. Os rumos que o enredo toma são surpreendentes e as páginas voam em nossas mãos.
O Ceifador é tiro, é bomba, é berros. Foi um livro que me prendeu da primeira à última página, me deixando extremamente curiosa pela continuação. Só não digo foi que foi a melhor leitura do ano até o momento porque em 2018 teve Corte de Névoa e Fúria e Corte de Asas e Ruínas, e eles estão na minha lista de favoritos da vida inteira. Mas foi um livro muito incrível. Mas foi um livro muito incrível. E os direitos cinematográficos foram comprados há um tempo e a adaptação está em produção, mas em estágios tão iniciais que não há quase nenhuma notícia sobre ela.
E deixa eu contar uma coisa para vocês: A Amazon está em promoção até o dia 2 e os livros da série Scythe estão com muito desconto e frete grátis:
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Recomendo demais. E agora vou rumo ao volume dois, A Nuvem, que dizem ser ainda mais épico.
Teca Machado