terça-feira, 27 de outubro de 2015

A Dama Dourada – Sobre arte, guerra, direito e traumas


Às vezes nos sentamos para assistir um filme sem dar nada para ele e a produção nos surpreende de modo muito positivo. Foi o que aconteceu comigo domingo com A Dama Dourada, do diretor Simon Curtis. Vi pouquíssimo marketing em cima do filme lançado em agosto, passou em poucos cinemas no Brasil, mas escutei em algum lugar por aí que ele era muito bom. Naquela peregrinação pelo Netflix, demos de cara com essa obra e resolvemos dar uma chance. Melhor decisão do dia.


A Dama Dourada é baseado em fatos reais e fala sobre a restituição de obras de arte que foram tomadas pelos Nazistas na II Guerra Mundial. Maria Altman (Helen Mirren), uma austríaca judia de uma proeminente e rica família de Viena, precisou fugir da Áustria na juventude quando o governo de Hitler começou a perseguição. Saquearam a sua casa, prenderam seus pais, tomaram todos seus pertences, inclusive obras de arte de Gustav Klimt, sendo a mais famosa do artista, Retrato de Àdele Bloch-Bauer, também conhecida como A Dama Dourada, uma pintura da adorada tia de Maria que morreu antes do conflito começar.

Em 1998, quando a trama começa, Maria já idosa vive nos Estados Unidos e descobre que a Áustria começou um processo de restituição de obras de arte às famílias que foram saqueadas pelos Nazistas. Com a ajuda do advogado Randy Schoenberg (Ryan Reynolds), neto de um famoso compositor e filho de uma grande amiga de Maria, outra fugitiva da guerra, ela entra com uma petição para ter essas e outras pinturas de volta. Mas A Dama Dourada é o maior orgulho das artes da Áustria, é a “Monalisa” de Viena, e reaver o quadro, inclusive leva-lo para os Estados Unidos, será uma tarefa impossível, principalmente porque o governo austríaco se recusa a abrir mão da sua maior preciosidade. Cabe à Randy lutar pela restituição, mesmo que muitas vezes Maria se torne reticente devido aos traumas que a guerra gerou nela.

O Retrato de Àdele Bloch-Bauer, ou A Dama Dourada

Randy e Maria

O filme é contado pelo ponto de vista de Maria e Randy em 1998, mas constantemente há flashbacks dos anos 1940 que mostram a alegre vida da austríaca e sua família antes do conflito e posteriormente tudo o que os Nazistas tiraram deles e a fuga. Enquanto nos anos 1990 a fotografia do filme é em tons vivos, o passado é mostrado em cores desbotadas, vintage e a trilha sonora e figurino se tornam quase personagens do filme.

Helen Mirren interpreta Maria de forma magnífica, como todo trabalho que faz. Maria é aquele tipo de senhora meio maldosa, intransigente e sem filtro, mas que com o passar do filme nos faz amá-la principalmente por causa disso. É uma mulher sofrida, que viu os horrores da perseguição do seu povo, da sua família, e que encontrou um modo de sobreviver e ser feliz em outro país. 


Maria e seu marido na juventude na Áustria
Maria quando criança e sua tia Àdele, imortalizada por Klimt

Ryan Reynolds faz o papel de sempre, meio atrapalhado, meio engraçadão, mas nós o amamos exatamente por isso. Randy pode até ter começado a ajudar Maria por motivações exclusivamente financeiras (Afinal, os quadros de Klimt valem no mínimo U$ 100 milhões cada um), mas com o passar da história e ao conhecer a dor de Maria e de outras famílias austríacas, como a dele mesmo, sua vontade de recuperar as obras de arte se torna questão de justiça, de um reparo com as vítimas da guerra. Ele mergulha de cabeça nesse mundo, a ponto de deixar sua esposa (Katie Holmes, basicamente uma figurante no filme) sozinha durante o parto do seu filho.

A Dama Dourada traz reflexões sobre o período da II Guerra Mundial, sobre o pós-conflito, quando os governos até querem reparar alguns erros do passado, mas não tantos assim, sobre os traumas de quem viveu aquele período tão conturbado e sobre o impacto que isso teve sobre famílias destruídas, que tiveram tudo arrancado de si, inclusive a vida e a alegria.

A verdadeira Maria Altman

Fiquei com vontade de pesquisar sobre Maria Altman, sobre o processo no “mundo real” e sobre mais obras de Klimt, um pintor que sempre me chamou a atenção.

Recomendo bastante.

Teca Machado


6 comentários:

  1. O filme deve ser bem emocionante e até mesmo triste.
    Sempre que vejo algo sobre as perseguições nazistas é como se abrisse um buraco no meu coração. Como pode tanta maldade no ser humano, né!?
    Depois vou procurar esse filme. Ele parece ser muito bom!
    bjin

    http://monevenzel.blogspot.com.br/

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    1. Sempre abre uma ferida que jamais será cicatrizada , mais o filme é excelente.

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  2. Oiiii Teca!
    Eu já tinha ouvido falar desse pintor e já tinha visto essa obra também, acho que é a mais famosa dele.
    Não conhecia o filme. Mas parece muuuito legal!
    Vou assistir sim *-*

    Beijos
    www.ooutroladodaraposa.com.br

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  3. Que bacana, eu não conhecia.
    Adorei a indicação e a obra <3
    www.camilakellen.com

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  4. Oi, Teca!

    Eu conheço Gustav Klimt por causa da minha mãe que é apaixonada pelo quadro O Beijo dele. A gente até tinha uma representação em casa que desapareceu em algum momento e não sabemos onde foi parar. Hahahaha

    Mas achei ÓTIMO esse enredo e quero muito assistir o filme! Adoro livros e filmes que tratam sobre a guerra. Acho que essas histórias devem ser debatidas eternamente para que as pessoas não cometam os mesmos erros novamente. Esse ano li Toda Luz que Não Podemos Ver esse ano e super recomendo também. A história é linda e muito envolvente. E ainda tenho uma pequena lista de livros que quero pegar. xD
    Mas filmes são mais fáceis de assistir! Hahaha

    Bjs!

    livrosontemhojeesempre.blogspot.com.br

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  5. Eu não sabia sobre esse filme, parece ser muito bom mas triste também, vou tentar assistir!
    Bju Bju
    www.rascunhosdeestilo.com.br

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