Será Que? - Amizade e paixão platônica, quem nunca?

Todo mundo tem pelo menos uma história sobre se apaixonar pelo amigo e vice-versa, então é um tema bem clichê para um filme. Mas gosto muito da citação de Lisbela, em Lisbela e o Prisioneiro, que afirma que o importante não é o que acontece, mas como acontece. Esse é o caso do filme Será Que?, estrelado pelo eterno menino que sobreviveu Daniel Radcliffe.

Uma comédia romântica inteligente, sem humor óbvio ou pastelão, Será Que? foi um passo ousado para Daniel Harry Potter Radcliffe. Convenhamos, ele não é engraçado, não tem cara engraçada e nem combina com ser engraçado. Mas o humor do filme é mais refinado, ácido e até negro em alguns momentos, principalmente quando contracena com Zoe Kazan, seu interesse amoroso na história. A conversa entre eles é tão fluida e íntima que é impossível negar a química entre os dois.

Em Será Que?, do diretor Michael Dowse, Wallace (Radcliffe) está no fundo do poço. Há um ano, após pegar a namorada e colega de faculdade de medicina se agarrando com um dos professores numa das salinhas do hospital, ele largou a universidade. Arrasado, vai morar no sótão da casa da irmã e arruma um trabalho medíocre como escritor de manuais de instrução, provavelmente a profissão mais chata do universo. Levando uma existência monótona, numa festa acaba conhecendo Chantry (Kazan). 

Wallace e Chantry

Ambos são socialmente esquisitos, não gostam de ficar no meio de muita gente, então a conexão é instantânea. Quando acompanha a garota até em casa descobre que ela tem namorado. Sendo o bom moço que é, resolve não procura-la mais. Mas o destino fez com que se esbarrassem de novo e ele vê isso como um sinal para que se conforme em ser apenas amigo dela e eles se tornam melhores amigos. Então Wallace se vê num dilema moral: Se der em cima dela, estará sendo um cara babaca e cafajeste; se abrir o jogo sobre o que sente, pode perder a sua amizade; se não fizer nada, corre o risco de perder a garota da sua vida. 

O interessante de Será Que? é que em momento nenhum Wallace quer roubar Chantry para ele, apesar de ser loucamente apaixonado pela garota. A vida dela parece tão nos eixos e feliz que ele se recusa a ser alguém que vai acabar com o delicado equilíbrio que ela construiu, por isso luta com todas as forças contra o que sente. Ele prefere não fazer nada a fazer algo moralmente errado. Difícil encontrar um personagem assim. Mais do que enfatizar a ligação romântica entre eles, o enredo evidencia a amizade verdadeira, mesmo que tenha uma paixão platônica de fundo.

Ambientado em Toronto, o filme tem a fotografia bem bonita, principalmente quando Wallace fica sentado no telhado da sua casa olhando a cidade. Chantry é uma gracinha e Wallace é um azarão a um pulo de ser azedo. Os dois atores encaixaram certinho no papel. Zoe Kazan é doce e fala baixo e Daniel Radcliffe tem um jeito esquisito que é o mesmo do personagem. Ele até me surpreendeu, porque geralmente eu acho ele meio canastrão. Allan (Adam Driver) e Nicole (Mackenzie Davis), os melhores amigos do protagonista, são muito engraçados e o alívio cômico absurdo da produção.

Nicolle e Allan

Não espere morrer de rir, não é o objetivo do filme. Eu dei risada, sim, em alguns momentos, mas ele é mais reflexivo do que engraçado e nem de longe é uma super produção. Os diálogos são até meio longos e por vezes profundos. A história é doce e pode acontecer com qualquer pessoa que já teve um amigo do sexo oposto.

Recomendo. Tem no Netflix.

Teca Machado