Garota Exemplar - Sobre o filme


Assim como gostei imensamente do livro Garota Exemplar (Comentei aqui), de Gillian Flynn, gostei o mesmo tanto do filme baseado na obra, do diretor David Fincher, o mesmo de O Clube da Luta, A Rede Social, House of Cards e Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres. Muito fiel ao livro, o diretor soube levar os atores ao seu máximo e soube como transmitir aquela sensação de impotência na qual Nick Dunne, o protagonista, se encontra. Os gestos, as câmeras, a disposição dos objetos, tudo nos leva para aquele ambiente meio decadente dos Missouri e do casamento deles. Nada ali é em vão, nem um único olhar.


Para quem ainda não sabe nada sobre o enredo, vai aqui uma breve sinopse sem spoilers (Porque esse é aquele tipo de filme que se tiver um spoiler que for, perde totalmente a graça): No quinto aniversário de casamento, Amy Dunne (Rosamund Pike) desaparece da sua casa em circunstâncias misteriosas. Nick Dunne (Ben Affleck), o marido, avisa a polícia, mas em pouco tempo as pistas levam-no a ser o principal suspeito do sequestro ou, ao que tudo leva a crer, do homicídio. Desse modo, o circo da mídia está armado e Nick passa a ser o vilão americano. Mas não é tão simples assim. Nada é o que parece e o caso é muito mais complexo do que à primeira vista.

O sorriso no momento infeliz

Garota Exemplar é lotado de reviravoltas que deixam o espectador com cara de besta (Isso se ele não leu o livro). Contado do ponto de vista do presente, com Nick em primeiro plano, e misturado com flashbacks do diário de Amy do passado, esse é um filme que envolve e deixa apreensivo, é o tipo que você passa alguns dias ainda pensando em tudo o que aconteceu. Grande trunfo da produção é o fato de a própria Gillian Flynn ser a roteirista, o que fez com que ficasse muito mais fiel (Na verdade um dos mais fieis que eu já assisti) e que o diretor entendesse a visão e a ambientação do original. O filme, os personagens, são tão cínicos que é possível rir em alguns momentos de Garota Exemplar, mesmo que não seja propriamente engraçado.

Nick e Amy no passado quando tudo era bom

O elenco também é magnífico. Confesso que quando descobri que Ben Affleck seria Nick, não me empolguei muito. O Nick do livro é loiro, com sangue escocês, e eu não imaginava nada parecido com ele. Mas ele nos entrega um Nick perfeito: Emasculado pela mulher, uma espécie de loser, um homem que não fica firme em suas convicções e que quer a todo custo que gostem dele, tanto que chega a sorrir na coletiva de imprensa do sumiço de Amy. A sua apatia é enervante e sua atuação ótima. E Rosamund Pike dá um show. David Fincher desde o início insistiu que a atriz deveria viver Amy e a escolha é totalmente justificada. É uma mulher com um quê de fria, de fechada, que não tem nenhum gesto, olhar ou diálogo que não seja calculado, assim como o livro nos projeta Amy. Até as características físicas são as mesmas. Também merecem crédito Carrie Coon, como Margo, irmã gêmea de Nick, Kim Dickens, como a detetive Rhonda, e Neil Patrick Harris (Awesome Barney!), como Desi Collings, um admirador de Amy.

Posteres promocionais do filme. Fantásticos!

Fui ao cinema com a certeza de que o final seria diferente do original, já que o próprio Ben Affleck disse várias vezes que era como se a roteirista/autora tivesse pegado o 3º ato do livro, rasgado e escrito outro. Mas é basicamente o mesmo, com pequenos ajustes. Acredito que tenha se falado isso para que mesmo quem leu o livro fosse de alguma forma surpreendido, esperando uma coisa e sendo outra. E eu gosto daquele final, mesmo que muita gente não. É inesperado, é diferente, é quase absurdo. O espectador/leitor precisa passar um tempo digerindo o desfecho para começar a gostar e a compreender. Foi engraçado na saída do filme ver a cara do público de “Whaaaaaaat?” e ouvir comentários como “Eu não acredito que acabou assim”.

David Fincher, Ben Affleck, Rosamund Pike e Gillian Flynn, vocês estão de muitos parabéns!

Recomendo muito.

Teca Machado

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