Tarantino na sua melhor forma – Django Livre
Quarta-feira fui ao cinema com a Marcinha Lopes (Uma contadora de histórias sensacional) assistir Django Livre. Antes de começar, passou o trailer de Hitchcock. Em determinada cena, a esposa do famoso diretor disse que às vezes tinha medo do marido porque era casada com um homem fascinado por assassinatos e morte. Quando Django Livre começou, pensei em como devia se sentir a mulher do Quentin Tarantino, porque esse sim ama sangue e violência.
Eu gosto dos filmes do diretor, mas ele não é o meu favorito. Só que posso dizer que Django Livre é um dos seus melhores trabalhos. Até agora estou impressionada com a qualidade do filme. Os atores mais do que excepcionais, a fotografia de faroeste bem escolhida, a trilha sonora que aparentemente não tem nada a ver, mas que encaixa perfeitamente no filme, o modo como a história foi contada, o humor um tanto cáustico que permeia mesmo as cenas tensas e o cuidado com os detalhes. Tudo mostra que Quentin Tarantino criou um novo subgênero de cinema no qual ele é o mestre supremo e está sempre se aperfeiçoando (Só que o problema é a duração de 2h45 do filme. Dava para cortar mais de meia hora facilmente).
Dr. Schultz e Django
Django Livre (O D é mudo) retrata de maneira muito crua a exploração dos escravos nos EUA pré-Guerra Civil. Dr. King Schultz (Christoph Waltz) é um dentista alemão que abandonou a profissão para virar um caçador de recompensas. Ele captura, mata criminosos e os entrega para as autoridades. Quando precisa encontrar três capatazes, mas não sabe quem são, compra o escravo Django (Jamie Foxx), que já teve contato com eles, para que o ajude a encontrar os homens. Após o trabalho, Dr. Schultz liberta Django, mas ambos continuam a parceria e criam uma amizade que toca pela sensibilidade, apesar de ser em um filme tão sangrento.
Caçadores de recompensa em ação
Quando não era alforriado, Django foi separado da esposa Brunhilda (Kerry Washington), também escrava, e quer a todo custo encontra-la. Dr. Schultz fica tocado com isso, ainda mais que a mulher tem nome de uma lenda nórdica e fala alemão. Então, descobre que ela se encontra na fazenda do terrível Calvin Candie (Leonardo DiCaprio) e bola um plano espetacular para tirar a mulher do local.
Calvin Candie, o perverso um tanto bobo
O tema é o que quase sempre permeia os filmes de Tarantino: Vingança. Mas pode-se dizer que Django Livre é quase romântico, apesar dos palavrões constantes e termos pejorativos. Como em toda obra do diretor, as espingardas parecem carregadas com granadas, pois um só tiro faz com que a pessoa praticamente exploda e o sangue se espalhe por uns 20 metros. Claro que a violência é explícita e quase cartunesca, em alguns momentos deixando o espectador muito desconfortável (Como numa cena fortíssima em que um negro é comido por cães e nos momentos de mandingo, o UFC dos escravos).
Sangue explodindo, como em todo Tarantino
Dos atores principais é difícil dizer quem é o melhor em Django Livre. Morro de amores pelos três. Parece que o papel do protagonista foi escrito para Jamie Foxx. Jamie Foxx é Django. Introspectivo, inteligente a sua maneira, obstinado, ousado e forte, muito forte. Excelente.
Christoph Waltz não merece apenas o Oscar que ganhou por Bastardos Inglórios. Ele merece por praticamente todo filme que atuou. Dr. Schultz é tão carismático e interessante que o espectador nem liga para o fato de que ele mata outros homens por dinheiro. Há um humor quase negro em sua voz o tempo todo que você fica com vontade de sorrir com ele.
Leonardo DiCaprio, Christoph Walrz e Samuel L. Jackson
E o Leonardo DiCaprio? Acho a maior injustiça da história do cinema ele não ter levado uma estatueta até hoje. Ele está incrível em Django Livre, mesmo aparecendo só no terço final. Calvin Candie consegue ser abobalhado e perverso ao mesmo tempo. Sua caracterização impecável, seus dentes podres, a voz com sotaque sulista quase irreconhecível. Há uma cena em um jantar que o personagem se enfurece. Nas gravações, o ator realmente cortou a mão e mesmo assim não parou as filmagens.
Django e Brunhilda
Gostei muito das ironias que Tarantino colocou no filme. Como a fazenda de Calvin Candie ser chamada de Candyland (Terra dos Doces), um trocadilho com o nome do personagem, que de doçura não tem nada. A cena com os fazendeiros mascarados, numa espécie de pré-Ku-Klux-Klan é impagável. Mas o melhor é a aparição do diretor na sequência final que praticamente grita ao espectador “Não gosta dos meus filmes? Que se exploda, então”.
Tarantino em cena do filme
Django Livre está concorrendo ao Oscar nos próximo domingo nas categorias: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante (Christoph Waltz), Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Edição de Som. Talvez Christoph Waltz leve. Ele merece.
Recomendo.
Teca Machado
Esse filme é absurdamente bom! Apesar de sangrento, eu ri do início ao fim do filme com os diálogos geniais. O Dr. Schultz é sensacional. Confesso que a longa duração do filme nem me incomodou muito, queria até mais auhahuha
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